sexta-feira, novembro 11, 2005

DESLIGANDO OS SENTIDOS E ENCONTRANDO O CRIADOR

Se existe uma certeza universal, é a de que o homem, em todos os lugares e em todas as épocas, buscou o seu Criador. Os que se dizem ateus inclusive, pois a sua descrença é fruto de uma busca frustrada que, não obstante, em algum momento ocorreu.

O argumento protestante de que a busca que o homem promove em relação a Deus prescinde de intermediários – como os santos ou os anjos – é fundada em dezenas de versículos bíblicos que, intercomunicados num sistema, demonstraram a mais absoluta aversão do texto sagrado ao que se denomina idolatria.

Muito embora a argumentação bíblica seja retumbante e insuperável por qualquer entendimento que emane da própria Bíblia, é comum encontrar aqueles que o renegam solenemente, preferindo crer no objeto de sua preferência.

É justamente a preferência, o gosto, a satisfação pelo suposto contato espiritual através dos sentidos – marcadamente a visão e o tato – que os protestantes ignoram quando buscam convencer o idólatra que sua opção e equivocada e auto-condenatória.

Aquele que se prostra diante de um ídolo que pode ser visto, tocado e beijado, tem prazer em contatar o mundo espiritual através de uma experiência sensorial. Tira-lhe esta possibilidade e convidá-lo a comunicar-se com Deus diretamente, sem contato visual com nada que represente este Deus, é o mesmo que pedir a esta pessoa que ela fale sozinha.

Pedir a alguém para dirigir uma prece a um santo, a um anjo, ou outra entidade espiritual qualquer não é difícil, pois tal pedido coincide com as preferências do homem natural. É o mesmo que convidá-lo para um banquete onde só há comidas de sua preferência.

Ao contrário, pedir a alguém para dirigir uma prece a Deus de olhos fechados, com o pensamento posto no intangível, é bem difícil, e isto porque o homem natural rejeita desligar os sentidos de que foi dotado para acessar a Deus.

Convencer alguém a se abster dos cinco sentidos durante a comunicação com Deus é cobrar desta pessoa a sua total dependência durante o sublime contato com o Criador. Por razões que remetem à experiência de Adão no Éden, o homem impõe a Deus a sua independência neste mundo, ainda que não o perceba. Cada indivíduo, por mais débil que seja sua situação, insiste em controlar o seu destino e não abdicar de poder decidir o que é o bem e o mal por si mesmo.

Ao nos desligarmos de nossos sentidos durante o contato com Deus, nos removemos à condição que tínhamos Nele antes de nossa criação. Se somos eternos no passado e no futuro e se os nossos cinco sentidos nos acompanharão somente durante esta jornada natural e terrena, é plausível que Deus nos cobre a dependência Nele e não naquilo que um dia vai perecer como tudo que é material.

Muito embora sejamos todos seres espirituais na origem, Deus nos deu um corpo material e dotou-nos de cinco sentidos para que interagíssemos com o mundo que nos cerca. O contato com o Criador, no entanto, por ser Ele espiritual, continua sendo uma experiência do espírito humano e não do corpo humano por seus sentidos.

Ao escolher o fruto da percepção individual do que seja o bem e o mal, o homem renunciou a dependência de Deus que se operava no espírito humano que, ademais, tornou-se morto. O homem cobrou uma independência quanto ao seu destino na terra e transmudou-se de um ser completo (natural e sobrenatural) para um ser incompleto (meramente natural), dotado de um vazio na parte indetectável de sua constituição, ou seja, o espírito.

A partir daí o homem passou a procurar Deus em sua jornada, pois o havia perdido, e, ignobilmente, usando seus sentidos, como se fosse possível acessar o imaterial através do que é material. Mesmo que o homem não perceba, ele está obstinado a achar a Deus sem prejuízo da independência que obteve e é justamente por isso que é tão difícil convencer um idólatra à comunicar-se com Deus sem uso de suas imagens.

Por isso são chamados de perdidos. Porque algo dentro deles diz que eles devem achar seu criador, no entanto, não sabem quem o é, onde achá-lo, ou como encontrá-lo. Se esta perdição humana ultrapassa a linha divisória da vida terrena, torna-se eterna e é por isso que a situação é tão grave para o que se encontra perdido de seu Pai Celeste.

Aqueles que andaram com Jesus Cristo durante sua passagem terrena, mesmo podendo ver o Deus Eterno na pessoa do Filho, foram desafiados pelo mesmo a um contato extra-sensorial, como quando Jesus repreendeu a Tomé – o maior dos idólatras convertido – que exigia não somente ver a Jesus, como também tocá-lo. Como Jesus estava presente e como desejava ensinar a posteridade que seu corpo era real, permitiu a Tomé tocá-lo, no entanto, disse: Bendito os que não viram e creram!

A posição de Jesus no episódio muito nos ensina como falar ao idólatra. Primeiramente com amor, porém, sem deixar de admoestá-lo, demonstrando-lhe as conseqüências eternas de seu erro, caso não haja arrependimento. É bom lembrar que em homem convencido contra a vontade conserva sempre a posição anterior.

Quanto aos que ainda não renegaram as formas sensitivas de contato com Deus, devem abster-se de suas vontades egoísticas para reparar no Deus que tão amorosamente os chama. Quanto aos que já buscam a Deus sem o intermédio de imagens e ritos, porém ainda não crucificaram sua vontade egocêntrica, devem lançar fora toda forma de idolatria interior, inclusive a Egolatria, que é a forma mais comum de idolatria, presente tanto nos pagãos como em alguns devotos cristãos evangélicos.

É comum o idólatra revoltar-se com os comentários que se faz em relação à sua prática e, quando tais comentários partem de uma atitude acusadora e julgadora – que a ninguém compete, senão a Deus – tem razão o idólatra de sentir-se ofendido, ao menos quanto à forma como é julgado e acusado. No entanto, ao falar brandamente, com amor e humildade sobre o destino que o espera, não se estará acusando o idólatra e sim buscando poupá-lo do que se acredita ser um tormento eterno. Tal atitude, em si mesma, não o ofende e nem o acusa; é a própria consciência do idólatra que o acusa.

Assim, para ver a Deus é necessário desligar-se dos sentidos e procurá-lo com o interior, porque Jesus disse que aquele que (O) procura, encontra (Mt 7:7).

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Manolo, sabemos que todo texto analisado sem o seu contexto, acaba virando um pretexto; e não é esta a minha intenção. Porém, chamou-me atenção para uma parte do seu texto que diz: "Se somos eternos no passado e no futuro..."
DEUS como soberano e eterno, criou TODAS as coisas; e em algum momento incluímo-nos nessa "fase da criação...", ainda que numa outra esfera de entendimento ou dimensão.
Por isso, imaginarmo-nos eternos no passado(ainda que: voltaremos donde viemos!), AS VEZES é um tanto quanto alegórico, principalmente se o texto foi LIDO por alguém que não possuí a Loucura da Pregação...
Parabéns, te amo em Cristo
Gilson Machado