sábado, abril 29, 2006

Tentação não se Enfrenta

A Bíblia é repleta de exemplos de coragem dos homens de Deus e a covardia é algo repelido pelo cristão, já que Deus não nos dá espírito de covardia, mas de poder, amor e moderação (2 Tm 1:7). A valentia de enfrentar as situações é imprescindível quando tratamos com circunstâncias externas que nos desafiam e testam nossa fé, mas não quando tratamos com a tentação.

A tentação, como é dito em Tg 1:14, é fruto de nossa própria cobiça que nos atrai e seduz. Não se trata de um inimigo externo e sim de uma ameaça que brota dentro de nós, alimentada por uma distração qualquer em relação aos nossos valores.

Todos são tentados. Há aqueles que oram para não ser tentados, porém, isto é uma oração inútil, pois ser tentado é parte do nosso crescimento espiritual. Só quando somos tentados – e resistimos à tentação – nos parecemos mais com Cristo e subimos espiritualmente, rumo à estatura do Varão Perfeito, que é Jesus.

O remédio preventivo para a tentação está em Lc 22:46 onde Jesus diz: Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação. Orar nos impede de cair nas tentações e não de sermos tentados. Aliás, na oração que Jesus ensinou aos seus discípulos ele disse que deveríamos pedir ao Pai para não cairmos em tentações e não para não sermos tentados.

A oração vai impingir espiritualidade ao nosso ser e reter o nível de carnalidade que favorece a sedução do pecado. Mesmo assim, precisamos de uma atitude prática em relação à tentação, que é fugir dela. Na carta aos Coríntios, tanto no capítulo 6:18 como no capítulo 10:14 a recomendação em relação aos pecados da impureza e da idolatria (intimamente ligado à impureza) é a mesma: fugir. Também em Eclesiastes 7:26 diz: Achei coisa mais amarga do que a morte: a mulher cujo coração são redes e laços e cujas mãos são grilhões; quem for bom diante de Deus fugirá dela, mas o pecador virá a ser seu prisioneiro.

Outra passagem bíblica que confirma o fato de que diante da tentação devemos fugir é 1 Co 10:13 que diz: Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar. O livramento de que fala Paulo não é outro senão o escape, o caminho da fuga. A palavra grega que é traduzida como “livramento” é ekbasis, que significa também caminho para fora, saída. O Léxico Grego de Strong menciona quanto a esta palavra o seguinte: “aplicado figurativamente para o caminho de escape da tentação”.

Como se vê, Deus nos incentiva a orar para não cair em tentação e promete que não seremos tentados acima do que podemos suportar, e que a cada tentação teremos sempre um caminho de fuga para não cair.

O problema é que muitas vezes não desejamos fugir e quanto mais esperamos para tomar a decisão de fuga, mais difícil fica pra fugir. A fuga precisa ser decidida e executada no momento em que vemos o cenário do pecado nos cercando. É ali que precisamos fazer como José, que fugiu de diante da mulher de seu senhor – que queria agarrá-lo – mesmo que para isto tenhamos que perder alguma coisa, como José, que perdeu suas roupas, que ficaram em mãos da mulher de seu senhor. Imagine se José resolvesse administrar a situação da tentação; se resolvesse sentar e conversar pra fazer sua ama entender que ele não podia deitar-se com ela. Certamente José não teria resistido à sua própria cobiça, pois sendo jovem e solteiro e a mulher de seu senhor bela e atraída por ele, certamente que José também tinha que lutar contra o desejo de possuí-la.

José não “administrou” a situação, ele agiu imediatamente fugindo da situação de tentação. Para poder fugir José perdeu suas roupas. Foi o preço para se manter fiel ao Senhor, fidelidade esta que foi recompensada depois, quando virou o homem mais importante do Egito depois do Faraó; muito mais importante inclusive, que o seu antigo senhor. Às vezes a tentação se configura a partir de um local, uma amizade, um tipo de conversa, um lazer, em negócio, etc. O apego a estas coisas não pode ser obstáculo para fugirmos da tentação, pois se pusermos os olhos nestas coisas não conseguiremos fugir e cairemos em tentação. Para não cair em tentação é preciso fugir, ou seja, abandonar um posição, e isto é contrário à nossa cultura.

Outras atitudes que não podem ser tomadas são: a indiferença e a luta contra a tentação. A indiferença à situação de tentação que nos cerca só contribui com nossa cobiça, que no momento certo vai brotar com força avassaladora para nos derrubar, então, é preciso, ao primeiro sinal de que o cerco da tentação está se fechando, deixar tudo e fugir da situação que se montou a nossa volta. Quanto à lutar contra a tentação, por exemplo orando para que se dissipe a cobiça interior, é uma solução que só se aplica se não pudermos fugir literalmente, pois a Palavra de Deus não diz “orai contra a tentação” e sim fugi dela. Devemos estar orando constantemente para que nosso interior seja mudado e a força do pecado em nós contida pelo Espírito, pois aquele que está em Espírito jamais satisfará as concupiscências da carne. No entanto, negligenciar a oração e buscar orar somente quando já está cercado pela nuvem da tentação, é errado. Depois não adianta dizer que orou e a tentação não foi embora, pois quem deve ir embora somos nós diante da situação de tentação.

Diante do cenário de pecado, quando as forças do Inferno se avolumam e se fecham sobre o crente, é preciso fugir. Ao fugir do pecado, fugimos para Deus e nos tornamos dependente dEle. Assim, temos autoridade moral para resistir ao diabo, como está em Tg 4:7 que diz: Sujeitai-vos, pois, a Deus, mas resisti ao diabo e ele fugirá de vós. Só é possível resistir ao diabo a partir de uma posição de santidade e está só é possível manter em Cristo, dependendo dEle e não na força de nosso próprio braço.