quarta-feira, agosto 16, 2006

MARATONA DE ORAÇÃO

A sociedade em que vivemos moldou o hábito, já bem arraigado, de agir em tudo com brevidade. Símbolo máximo desta tendência é o fast food, ou comida rápida, onde o homem submete uma necessidade vital, o alimentar-se, à um tempo insuficiente, a fim de tornar “produtivo” o tempo que deveria utilizar para a alimentação.

É assim em relação ao pão natural e não é diferente em relação ao pão espiritual. Jesus é o Pão da Vida o qual é nosso alimento espiritual e de quem depende toda a nossa eternidade. O tempo que passamos em oração, com Deus, alimentando-nos do Pão da Vida, é um indicativo de como anda nossa vida espiritual.

É comum escutar durante uma pregação na igreja ou mesmo durante um culto de oração um pastor dizendo “vamos pregar uma palavra rapidamente” ou então orações brevíssimas, que justamente por serem breves demais acabam por não desatar o fardo da oração que nos é delegado pelo Espírito Santo.

Imagine alguém que marcou uma audiência com um Governador e que uma vez diante da autoridade passe a expor sua necessidade no modo “relâmpago”, ao final levantando e deixando a autoridade para trás, como se fosse uma estátua muda. Aliás, penso mesmo que tais orações relâmpago tem origem na idolatria, donde se ora para ídolos mudos.

Quem procede assim certamente não há de receber nada do Governador. É preciso entrar na presença do governante, reconhecer sua autoridade, ser específico no pedido, justificar sua procedência e sensibilizar a autoridade quanto a necessidade de que seja atendido o pedido. Não se pode fazer isto no modo “relâmpago”.

Ademais, é preciso estar preparado para a interação com a autoridade, para ser argüido, para ter os intentos mudados, para se deixar levar pelos argumentos da autoridade. Quando oramos é preciso estar sensível ao Espírito Santo para que este exponha a motivação de nosso coração ao orarmos, para que o Espírito Santo interceda por nós ao Pai, de variadas formas, mas até mesmo com gemidos inexprimíveis, o que certamente não se fará numa oração rápida.

A Bíblia nos mostra alguns exemplos de orações que foram atendidas justamente porque quem orava se demorou na presença de Deus. Assim a história de Ana, mulher de Alcana, que por ter se demorado na presença do SENHOR chamou a atenção do Sacerdote que a abençoou, vindo Ana, posteriormente, ser atendida por Deus que lhe deu um filho, aliás, lhe deu sete filhos (I Sm 1:9-20).

Temos o exemplo daqueles que, por estarem orando, ou seja, durante a oração, Deus os atendeu ou fez algo milagroso naquele momento. Assim Jô teve a sorte mudada no momento em que orava pelos seus amigos (Jô 42:10) e Daniel recebeu a visita do Anjo do Senhor enquanto orava (Dn 9:20-23). Se estes homens tivessem levado suas aspirações a Deus no modo “relâmpago” não teriam vivido as experiências que viveram e talvez nem tivessem sido atendidos.

Em Lc 9:29 vemos que a aparência do rosto de Jesus se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura justamente no momento em que Ele estava orando. Também o sobrenatural acontecimento de suar sangue ocorreu a Jesus quando Ele orava (Lc 22:44). Paulo, quando recebeu de Deus o comissionamento para pregar aos gentios, experimentou um êxtase e teve uma visão bem quando orava (At 22:17). O próprio batismo no Espírito Santo e o primeiro avivamento ocorreram aos que se achavam orando (At 2).

Em Mt 26:40 o próprio Jesus cobrou de seus discípulos um tempo de oração igual ou maior a uma hora. Jesus não cobrou que orassem de mãos dadas, que orassem no templo, que orassem por algo específico, que orassem em concordância ou que orassem com eloqüência, mas que orassem no mínimo uma hora! Isto nos indica algo muito importante: que qualidade de oração pode sim estar relacionada a tempo de oração.

Lembro-me particularmente do testemunho de uma missionária chilena que há alguns anos orou trinta dias, várias horas por dia, por um menino todo deformado de nascença e que Deus atendeu sua oração moldando o corpo do menino instantaneamente nos braços desta mulher. Ela conta que em alguns momentos a fadiga impedia que ela orasse algo “útil” ao Senhor e que então ela, num ato extremo, chegava a ler para o Senhor o que ela encontrava no jornal, mas não deixa a presença de Deus em oração sem ter dado cabo das horas a que havia se comprometido.

Por isso tudo considero que a quantidade de oração precisa ser resgatada como condição para uma qualidade de oração. Para usar um exemplo usado pelo autor de Hebreus, devemos ser como o maratonista que corre sua carreira. Devemos fazer nossas maratonas da oração, onde ao iniciarmos a orar já sabemos que permaneceremos um tempo na presença de Deus e que dali por diante muito poderá acontecer conosco, que Deus irá falar-nos de muitas maneiras e que não abandonaremos a corrida antes do fim.
Como o maratonista, poderemos sentir a fadiga e o tempo sem dúvida passará, para nós, mais devagar do que para os que não estiverem na maratona, no entanto, só os que correm a carreira é que cruzam a linha de chegada dos vencedores e sobem ao pódio para receber, do Rei, a coroa da vitória.

terça-feira, maio 02, 2006

PROGRAMAÇÃO


A automação nos possibilitou passar às máquinas uma série de tarefas que dantes eram humanas e a informática nos possibilitou programar com exatidão a realização destas tarefas por parte das máquinas. Assim, há tarefas que eram executadas diretamente por seres humanos, há apenas uma ou duas gerações, e que hoje são executadas com precisão por máquinas de última geração.


Isto nos traz certa apreensão e nos incita a pensar que também podemos nos programar para realizar, com exatidão, as tarefas que máquina alguma fará por nós. Tendemos imaginar que aquelas boas práticas e todas aquelas tarefas indispensáveis à nossa boa convivência podem ser programadas em nós, de maneira que não precisemos decidir, a cada nova oportunidade, de executamos ou não a tarefa. Tendemos imaginar que podemos programar roboticamente todas as boas práticas de vida e ver em nós, diariamente, a realização automática desta programação.

Não é assim que funcionamos. Na verdade, não “funcionamos” na acepção da palavra, pois aquilo que funciona é porque recebeu uma função e não delibera por si mesmo, como uma máquina, que decorrente de seu projeto, está fadada a realizar uma dada função.

Somos seres dotados de decisão. A cada momento precisamos decidir entre mais de uma opção. Dentre estas opções, muitas vezes, está à opção que infringe o querer de Deus para nós, suas criaturas. Quando oramos “não nos deixa cair em tentação” não estamos pedindo que Deus substitua nosso poder decisório por sua vontade, como se fossemos divinamente teleguiados, mas estamos pedindo a Deus que gere circunstâncias capazes de nos afastar dos cenários típicos do pecado que nos assedia.

Às vezes somos tentados a pensar: “Como seria bom se eu pudesse me programar para dormir todos os dias num mesmo horário, para comer somente o indispensável, para me alimentar somente do que é saudável, para ter meu devocional com Deus, para investir em relacionamentos que agradam a Deus, para colaborar com minha comunidade, etc”. No entanto, se pudéssemos nos programar, como fazemos com nosso despertador, não seríamos humanos, não seríamos feitos à imagem e semelhança do Criador. O fato de não precisarmos responder a tais estímulos, nem mesmo aos estímulos decorrentes dos instintos animais, é um dos elementos que nos caracteriza como seres que transcendem a natureza animal.

Em, síntese, não somos programáveis. Há que fale em programação neurolinguística ou outras programações destinadas ao cérebro humano. A realidade é que podemos aprender e este aprendizado pode pavimentar o caminho da mudança, no entanto, não podemos nos programar para ficarmos inexoravelmente vinculados a uma dada prática periódica. Por mais que aprendamos, por exemplo, que exercícios físicos são indispensáveis à uma vida saudável, ainda assim não podemos gerar em nós uma programação que, diariamente, sempre no mesmo horário, nos coaja a vestir uma malha de ginástica e nos impulsione aos exercícios físicos. Por mais que os ensinamentos quanto aos benefícios dos exercícios físicos possam impregnar nossa visão sobre o tema, ainda assim manteremos, sempre, a disposição sobre o nosso ser, escolhendo se vamos ou não vamos nos exercitar.

O mesmo não acontece com o pecado em nós. Este é rigorosamente programado para violar – todos os dias de nossa vida terrena – a norma que se imponha a nós como agradável a Deus. Seja lá o que for que venhamos a adotar como norma, seja a aquela que claramente emane do texto das Escrituras Sagradas, seja aquela que provenha de votos feitos à Deus, sempre a cobiça de nosso interior corrompido irá buscar uma maneira de transgredir, apoiada em nossos sentimentos, vontade egoística e racionalização.

É uma briga desigual. Enquanto não podemos nos programar para fazer o bem, pois não podemos nos obrigar permanentemente a obedecer a um comando dado anteriormente, o pecado em nós é justamente uma programação de violar toda a qualquer noção de “certo” que venhamos ter. Isto nos leva a uma única solução: a morte. A única maneira de viver sem transgredir o certo, aposto em nosso espírito pelo Espírito Santo, é providenciar a morte desta natureza humana decaída que consiste o nosso ser. No entanto, se esta morte representasse o fim da existência terrena não poderíamos chamar isto de solução, pois a solução pressupõe um meio de superar uma dificuldade para continuidade da vida. Se uma medida visa à morte é porque não houve solução para o problema. Assim, é preciso morrer e continuar vivo.

Morrer e continuar vivo é algo que só o Cristianismo explica. O morrer aqui é tomado no sentido de mortificar, ou seja, aplicar o estado de morto ao que em verdade vive. Para mortificar o corpo é preciso, em primeiro lugar, crer que a morte de Cristo na cruz levou consigo a minha vida terrena e animal e que a vida que ora pulsa em mim e que sustém o meu corpo é uma vida sobrenatural, que advém do Espírito Santo, que ressuscitou a Jesus Cristo dentre os mortos. Ou seja, com Ele morremos em sua morte e com Ele ressuscitamos em sua ressurreição. A mente pode não acompanhar esta dicção, questionando-se como pode alguém estar vivo com a vida de Cristo e não a sua após aceitar o sacrifício da cruz, se visivelmente nada ocorre de diferente com aquele aceita tal sacrifício para si. Se a mente tivesse domínio sobre todos os elementos que compõe o milagre da salvação humana, tal salvação não seria uma obra de fé. O que faz com que sejamos salvos por fé é justamente o fato de que aceitarmos como verdadeiro algo que não é comprovável.

Portanto, não podemos nos programar para executar diariamente um conjunto de tarefas que entendemos ser o ideal para uma vida regrada por princípios e valores extraídos da Palavra de Deus e não podemos evitar o fato de que nosso interior está programado para gerar em nós, diariamente, uma cobiça por tudo o que é errado. Assim, só nos resta mortificar esta natureza decaída, com fé no caráter remitente da obra da cruz e cooperando com esta fé a nossa diligência em fazer, diariamente, tudo aquilo que enfraquece nossa natureza humana-decaída, dando oportunidade ao Espírito Santo de militar contra nossa carne e nos fortalecer em espírito, pois a Palavra de Deus nos garante que se vivermos em espírito, de maneira nenhuma iremos satisfazer as concupiscências da carne.

Esta diligência não pode ser programada, ela é fruto de decisão tomada caso a caso, momento a momento, e só é exitosa ao estarmos em comunhão com o Espírito Santo de Deus. Se nos afastamos desta comunhão, pelos afazeres deste século (ainda que não sejam pecaminosos em si mesmos estes afazeres) tendemos a obedecer à outra programação, a do pecado em nós. Importa, portanto, que vivamos crendo na obra salvadora do calvário, diligentemente buscando a presença de Deus pela oração, pelo estudo e meditação na Palavra, pela reunião com Seu Corpo – a igreja (nos cultos, celebrações e na comunhão íntima com os irmãos) – por jejuns e pelo trabalho servil em relação àqueles que têm necessidades prementes a serem supridas e que encontram, em nós, o agir de Deus em seu favor
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sábado, abril 29, 2006

Tentação não se Enfrenta

A Bíblia é repleta de exemplos de coragem dos homens de Deus e a covardia é algo repelido pelo cristão, já que Deus não nos dá espírito de covardia, mas de poder, amor e moderação (2 Tm 1:7). A valentia de enfrentar as situações é imprescindível quando tratamos com circunstâncias externas que nos desafiam e testam nossa fé, mas não quando tratamos com a tentação.

A tentação, como é dito em Tg 1:14, é fruto de nossa própria cobiça que nos atrai e seduz. Não se trata de um inimigo externo e sim de uma ameaça que brota dentro de nós, alimentada por uma distração qualquer em relação aos nossos valores.

Todos são tentados. Há aqueles que oram para não ser tentados, porém, isto é uma oração inútil, pois ser tentado é parte do nosso crescimento espiritual. Só quando somos tentados – e resistimos à tentação – nos parecemos mais com Cristo e subimos espiritualmente, rumo à estatura do Varão Perfeito, que é Jesus.

O remédio preventivo para a tentação está em Lc 22:46 onde Jesus diz: Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação. Orar nos impede de cair nas tentações e não de sermos tentados. Aliás, na oração que Jesus ensinou aos seus discípulos ele disse que deveríamos pedir ao Pai para não cairmos em tentações e não para não sermos tentados.

A oração vai impingir espiritualidade ao nosso ser e reter o nível de carnalidade que favorece a sedução do pecado. Mesmo assim, precisamos de uma atitude prática em relação à tentação, que é fugir dela. Na carta aos Coríntios, tanto no capítulo 6:18 como no capítulo 10:14 a recomendação em relação aos pecados da impureza e da idolatria (intimamente ligado à impureza) é a mesma: fugir. Também em Eclesiastes 7:26 diz: Achei coisa mais amarga do que a morte: a mulher cujo coração são redes e laços e cujas mãos são grilhões; quem for bom diante de Deus fugirá dela, mas o pecador virá a ser seu prisioneiro.

Outra passagem bíblica que confirma o fato de que diante da tentação devemos fugir é 1 Co 10:13 que diz: Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar. O livramento de que fala Paulo não é outro senão o escape, o caminho da fuga. A palavra grega que é traduzida como “livramento” é ekbasis, que significa também caminho para fora, saída. O Léxico Grego de Strong menciona quanto a esta palavra o seguinte: “aplicado figurativamente para o caminho de escape da tentação”.

Como se vê, Deus nos incentiva a orar para não cair em tentação e promete que não seremos tentados acima do que podemos suportar, e que a cada tentação teremos sempre um caminho de fuga para não cair.

O problema é que muitas vezes não desejamos fugir e quanto mais esperamos para tomar a decisão de fuga, mais difícil fica pra fugir. A fuga precisa ser decidida e executada no momento em que vemos o cenário do pecado nos cercando. É ali que precisamos fazer como José, que fugiu de diante da mulher de seu senhor – que queria agarrá-lo – mesmo que para isto tenhamos que perder alguma coisa, como José, que perdeu suas roupas, que ficaram em mãos da mulher de seu senhor. Imagine se José resolvesse administrar a situação da tentação; se resolvesse sentar e conversar pra fazer sua ama entender que ele não podia deitar-se com ela. Certamente José não teria resistido à sua própria cobiça, pois sendo jovem e solteiro e a mulher de seu senhor bela e atraída por ele, certamente que José também tinha que lutar contra o desejo de possuí-la.

José não “administrou” a situação, ele agiu imediatamente fugindo da situação de tentação. Para poder fugir José perdeu suas roupas. Foi o preço para se manter fiel ao Senhor, fidelidade esta que foi recompensada depois, quando virou o homem mais importante do Egito depois do Faraó; muito mais importante inclusive, que o seu antigo senhor. Às vezes a tentação se configura a partir de um local, uma amizade, um tipo de conversa, um lazer, em negócio, etc. O apego a estas coisas não pode ser obstáculo para fugirmos da tentação, pois se pusermos os olhos nestas coisas não conseguiremos fugir e cairemos em tentação. Para não cair em tentação é preciso fugir, ou seja, abandonar um posição, e isto é contrário à nossa cultura.

Outras atitudes que não podem ser tomadas são: a indiferença e a luta contra a tentação. A indiferença à situação de tentação que nos cerca só contribui com nossa cobiça, que no momento certo vai brotar com força avassaladora para nos derrubar, então, é preciso, ao primeiro sinal de que o cerco da tentação está se fechando, deixar tudo e fugir da situação que se montou a nossa volta. Quanto à lutar contra a tentação, por exemplo orando para que se dissipe a cobiça interior, é uma solução que só se aplica se não pudermos fugir literalmente, pois a Palavra de Deus não diz “orai contra a tentação” e sim fugi dela. Devemos estar orando constantemente para que nosso interior seja mudado e a força do pecado em nós contida pelo Espírito, pois aquele que está em Espírito jamais satisfará as concupiscências da carne. No entanto, negligenciar a oração e buscar orar somente quando já está cercado pela nuvem da tentação, é errado. Depois não adianta dizer que orou e a tentação não foi embora, pois quem deve ir embora somos nós diante da situação de tentação.

Diante do cenário de pecado, quando as forças do Inferno se avolumam e se fecham sobre o crente, é preciso fugir. Ao fugir do pecado, fugimos para Deus e nos tornamos dependente dEle. Assim, temos autoridade moral para resistir ao diabo, como está em Tg 4:7 que diz: Sujeitai-vos, pois, a Deus, mas resisti ao diabo e ele fugirá de vós. Só é possível resistir ao diabo a partir de uma posição de santidade e está só é possível manter em Cristo, dependendo dEle e não na força de nosso próprio braço.

quinta-feira, março 16, 2006

Já Era a Força do Pecado

Aprendemos desde pequenos que nossas más ações devem ser por nós repelidas por temor do castigo. Quando recebemos o senhorio de Jesus Cristo em nossas vidas, na maioria das vezes, continuamos com a mesma estrutura de pensamentos, achando que o pecado deve ser repelido unicamente porque o seu cometimento atrai o castigo de Deus.

É verdade que o pecado atrai o castigo de Deus, como consta em Mateus 25:46: E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna, no entanto, é preciso prestar atenção para o fato de que o castigo é para os que recusaram a salvação dAquele que se fez pecado por nós e levou sobre Si o nosso castigo.

A Palavra de Deus nos diz em I Coríntios 15:56 que a força do pecado é a lei. Isto significa que o pecado tem um poder de compulsão na vida humana, levando o homem a errar o alvo. Este poder se baseia na lei, pois o objetivo do pecado é transgredir a lei. Ocorre que em Romanos 6:14 Deus nos diz em sua Palavra: Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça. Ora, se a lei não tem mais império sobre nós, o pecado que nela se baseia também não! Glória a Deus!

Imagine que alguém sobre quem repousa todo o poder humano em nosso país (na hipótese de existir tal pessoa) dissesse que você não precisa mais cumprir o Código Brasileiro de Trânsito. Você poderá cumprir com o que espera a lei de trânsito, no entanto, se a descumprir, não haverá pena alguma. A partir daí a pena, que é o castigo, também não tem poder sobre você, pois a pena é estabelecida na lei e a lei não mais impera sobre a sua vida. Agora imagine aquela voz interior que deseja nos ver ofendendo a lei; esta voz simboliza o pecado. Porque está voz diria pra você descumprir a lei se o objetivo de descumpri-la – que é receber a pena – não pode mais te atingir?

Esta é a nossa posição: não podemos mais receber uma penalidade que foi imposta a Cristo em nosso lugar! Logo, estamos livres da lei e livres do castigo. Então, porque nós cumpriríamos a lei? Não cumprimos a lei por causa do castigo, mas pelo fato de que reconhecemos que a lei é o certo e em nós repousa o Espírito de Deus, que nos faz andar somente em acerto. Ele nos faz andar como Ele andou e Ele não andará senão segundo a norma que enviou aos homens para cumprir.

Aprendemos no Direito que toda norma é composta de dois elementos: a hipótese de incidência e o mandamento. Além disso, há, por trás da norma, um valor humano que atribui juízos de certo a errado ao comportamento humano e uma pena na hipótese de seu descumprimento. Assim, a Lei Divina também suas hipóteses de incidência e um mandamento dizendo FAÇA ou NÃO FAÇA. Se transgredimos o mandamento quando estamos enquadrados na hipótese de incidência, a pena se nos é aplicada.

Jesus nos livrou da maldição da lei, ou seja, o mandamento não nos obriga mais e a pena também não pode mais incidir sobre nós, no entanto, os valores universais que embasam a lei persistem e nós devemos andar irrepreensíveis em relação ao mandamento, não porque lhe devamos obediência, mas porque consideramos os princípios e valores por de trás do mandamento e adoramos Aquele que o estabeleceu.

Este entendimento tem muita utilidade no que se refere a nos livrar do assédio do pecado, que são as tentações que brotam do nosso interior. Devemos CRER nesta verdade: Que o pecado não tem poder sobre nós (Rm 6:14). Conhecer e crer nesta verdade da Palavra de Deus nos liberta da força do pecado de dentro de nós brota para nos afastar da comunhão do Deus em nós, o Espírito Santo.

Não devemos mais permanecer naquele atitude que aprendemos com nossos pais, donde a nossa correção depende do nosso temor pelo castigo, mas devemos passar a uma atitude madura, entendendo que nossa correção (santidade) depende do amor e de nos identificarmos com o Deus que em si mesmo é o princípio e o fundamento de todo o mandamento contido na Sua lei.

Devemos lembrar a todo o momento: EU NÃO ESTOU DEBAIXO DA LEI! A COMPULSÃO PARA ME LEVAR A PECAR NÃO TEM FORÇA SOBRE MIM! Afinal:

Provérbios 11:21 O mau, é evidente, não ficará sem castigo, mas a geração dos justos é livre.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

MUDANÇA DE VALORES


A Palavra de Deus, na primeira carta aos Tessalonicenses, contém uma exortação para que andemos da maneira pela qual temos aprendido daqueles que nos ensinam no Senhor, a fim de que possamos progredir:

(1TS 4:1) - Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus, que assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus, assim andai, para que possais progredir cada vez mais.

Progredir é ação contínua de melhorar-nos como seres humanos. O ânimo de progredir é algo que somente se encontra na raça humana, sendo um ponto que nos diferencia dos demais animais inteligentes. Isto ocorre porque fomos feitos à imagem e semelhança de Deus e Ele é um Ser em progresso constante. Deus fez Sua obra, a salvou, a redimiu e vai aperfeiçoá-la para uma vida eterna.

Para experimentarmos o progresso de Deus em nossas vidas é preciso evitar a conformação deste mundo, ou seja, sermos formatados segundo o espírito deste mundo. Nossa formatação deverá ser segundo o Espírito Santo e, para isto, precisamos ser transformados:

(RM 12:2) - E não vos conformeis com este mundo, mas sede transformados (...) pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.

Importante observar que não progredimos numa regular e vagarosa metamorfose, mas em saltos de verdadeira transformação. Cada vez que nos submetemos ao ensino do Espírito Santo, decidimos pela mudança e implantamos uma disciplina de mudança, nós nos transformamos um pouco mais, de nossa natureza terrena, na natureza divina do Filho do Homem.

A chave desta mudança está na mudança de nossos valores, que em Romanos 12:2 é chamada de “renovação de nosso entendimento”:

(RM 12:2) (...) pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.

Mudar nossos valores não é uma tarefa fácil, mas é possível. Sem mudança de valores o ensino de Cristo não encontra terra fértil onde brotar. É como na parábola do semeador, em que a semente cai entre espinhos e estes sufocam a palavra. A palavra que cai numa mente treinada nos conceitos deste mundo cai entre espinhos e se estes não forem removidos a palavra não dá frutos, ou seja, não provoca mudanças na vida daquele que ouviu a palavra.

Há alguns dias um fato inusitado mostrou-me o quanto os paradigmas deste mundo impedem o agir de Deus em nossas vidas. Fui à chácara de um amigo e quando estávamos quase chegando senti que o pneu havia furado. Verificando o estepe percebi que este nunca havia sido trocado e que as ferramentas de troca de pneus nunca tinham sido usadas. Achamos facilmente o macaco e o estepe, no entanto, não encontrávamos a chave de roda. Pesquisamos no manual do veículo e este dizia que a chave de roda estava no assoalho do veículo, embaixo do estepe. Retiramos o estepe e não encontramos nenhuma chave de roda. Um de nós chegou a ir à sede da chácara, a pé, para buscar uma outra chave de roda, que não servia no pneu furado. Após algum tempo buscando uma solução, nos dirigimos ao porta-malas e lá fiquei olhando para o assoalho do veículo e repetindo: - Está aqui, certamente, nós só precisamos enxergar.... Foi aí que meu amigo levou a mão numa pequena bolsinha de feltro no fundo do assoalho e, de dentro da mesma retirou uma pequena chave de roda em forma de cachimbo; uma peça com não mais de 20 centímetros.

Porque não encontramos antes a chave de roda? Porque em nossas mentes uma chave de roda era grande, em forma de cruz e ocuparia bastante espaço. Nós não imaginávamos que pudesse haver uma chave de roda tão pequena para uma caminhonete a diesel. Por mais de uma hora nós nos debatemos procurando uma solução que estava perfeitamente descrita no manual: “A chave de roda está no assoalho do veículo”. Lemos a instrução no manual, mas isto não nos ajudou muito, pois ao ler “chave de roda” vinha-nos à mente um objeto totalmente diferente daquele que estava guardado no veículo. Tínhamos um “modelo mental” sobre a chave de roda e enquanto não nos liberamos daquele modelo mental não encontramos a solução, ainda que o manual estivesse bem claro quanto à localização da chave de roda.

Da mesma forma, a Bíblia, como nosso manual, contém a solução para inúmeras situações da vida cotidiana, mas só se opera a eficácia do texto da Palavra de Deus quando o interpretamos com uma perspectiva bíblica e não uma perspectiva mundana. Assim, ao lermos sobre “amor”, “perdão”, “aliança”, “sacrifício”, só poderemos retirar do texto o poder para mudança em nós se interpretarmos estes termos a partir de conceitos bíblicos, pois o mundo também tem um conceito secular para cada um destes termos e imbuídos destes conceitos nós nunca receberemos a iluminação do Espírito Santo, ou seja, a “revelação” do que significa o ensino da Palavra.

Para reaprendermos os conceitos é preciso um processo muito parecido com aquele pelo qual fomos educados desde pequenos; e é justamente por isso que Jesus disse a Nicodemos (Jo 3) que precisaríamos nascer de novo. O novo nascimento ocorre quando nos esvaziamos de nós mesmos, deixando de lado nossas opiniões, nosso conhecimento, nossos valores e os substituímos por uma curiosidade latente pela Palavra de Deus, reconstruindo nossos valores a partir do rhema de Deus. É no novo nascimento que nosso “Eu” morre, dando lugar a vida de Cristo em nós, com a formação de um novo ser humano, donde a noção personalíssima de “bem e mal” é substituída pela noção divina de “certo é errado”. Uma vez que estes novos valores estejam consolidados, o homem pode valer-se de sua mente de forma ilimitada, entendendo que a otimização de suas faculdades mentais ocorre quando estas não desafiam a Deus, mas quando sua mente é sujeita ao Espírito.

Popularizou-se a idéia de que valores Cristãos são “bons valores morais”. Moral ilibada está contida no Cristianismo e não o inverso. O Cristianismo é muito mais abrangente que a Moral. Ser cristão é obedecer a Cristo e a obediência transcende o entendimento. Se uma criança obedecesse somente aquilo que pudesse entender, certamente nunca seria obediente. Assim é conosco, pois Cristo disse que se alguém quisesse ser o maior no Reino dos Céus deveria ser como um menino (Mt 18:4).

Logo, devemos ser como meninos na construção de um novo plexo de conceitos e valores. Valores Cristãos recebidos no espírito e utilizados como fundamento de um novo código de atitudes.