quarta-feira, março 15, 2023

AJOELHADO OU FACE A FACE?

 

O SENHOR estende as mãos todos os dias a um povo rebelde (Is 65:2) e é justamente porque a carne do pecado é orgulhosa e desobediente que precisamos nos prostrar diante dEle, porém, o fato de precisarmos nos humilhar não significa que o SENHOR nos queira prostrados continuamente em sua presença.

Aliás, essa imposição para que os súditos se prostrem é uma característica do príncipe deste mundo (João 12:31) e não do Reis dos reis (Ap 19:16). Exemplos disso nós vemos na passagem em que o diabo diz a Jesus “tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4:9), na passagem em que o imperador Nabucodonosor decreta que qualquer que não se prostrasse diante dele, e não o adorasse, seria lançado dentro da fornalha de fogo ardente (Dn 3:11), e também na passagem em que o rei Assuero exige que todos se prostrem perante Hamã, seu ministro (Es 3:2).

Já o Eterno, o Criador do universo, “falava a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo” (Ex 33:11) e sobre Moisés diz a Escritura que “nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o SENHOR houvesse tratado face a face”.

É verdade que primeiramente Moisés subiu ao monte para receber as tábuas de pedra da aliança e ali permaneceu por quarenta dias e quarenta noites em jejum absoluto (Dt 9:9), e disse “prostrei-me perante o Senhor; aqueles quarenta dias e quarenta noites estive prostrado, porquanto o Senhor dissera que vos queria destruir” (Dt 9:25), o que indica que Moisés esteve prostrado muito mais para se humilhar em nome do povo rebelde do que em nome próprio.

Aliás, é disso que precisamos, ou seja, chegar à presença do SENHOR prostrados, adorá-Lo, dar nossa face ao que nos fere e nos fartar da afronta, pois é certo que o SENHOR não nos rejeitará (Lm 3:31).

Falar face a face é coisa de amigo, como se deu entre Moisés e o SENHOR, porém, YHWH nos quer fazer a todos como amigos, tanto que Jesus nos diz “já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo 15:15).

Jacó, quando recebeu a certeza da salvação, em Peniel, disse “tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva” (Gn 32:30) e Gideão também exclamou “Ah, Senhor DEUS, pois vi o anjo do SENHOR face a face”, quando viu subir fogo da penha e consumir a carne e os pães ázimos da oferta diante do Anjo do Senhor, uma provável teofania de Cristo (Jz 6:21-22).

Nem todo ato de se prostrar diante do SENHOR significa submissão à sua vontade, como vemos na passagem do jovem rico, que se ajoelhou diante de Jesus quando lhe convinha, mas deu as costas ao Mestre quando contrariado pela vontade do Pai (Mc 10:17-22). Balaão, torto de caráter, é o único de quem se diz que profetizou prostrado, mas de olhos abertos (Nm 24:16).

Devemos andar “perante a face do Senhor na terra dos viventes” (Sl 116:9) para que digam os moradores da terra que o SENHOR, que está no meio do seu povo, face a face lhes apareces (Nm 14:14), porém, isso não afasta os momentos em que reverentemente nos prostraremos, pois até “os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentado no trono, adorarão o que vive pelos séculos dos séculos e depositarão as suas coroas diante do trono” (Ap 4:10).

Por fim, observe que falar face a face aponta tanto para uma conversa de amigos, olho no olho e a certa distância, como também pode denotar a face do SENHOR bem próxima a face do homem, o que nos remete à nossa criação, quando “formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, soprou em suas narinas o fôlego da vida e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2:7).

A comunhão de Adão com o SENHOR dava-se na viração do dia, quando o Senhor Deus passeava no jardim (Gn 3:8), porém, morto o espírito do homem pelo pecado, o contato passou a se dar intermediado pela morte em sacrifício. Como o filho da viúva Serepta, que morrera, somos trazidos de volta à vida quando a voz profética se estende sobre nós, face a face, e nos devolve o Espírito, o Fôlego de Vida (1 Rs 17:21).

Por fim, ainda que hoje vejamos essas coisas “por espelho, em enigma”, um dia “veremos face a face” e conheceremos o SENHOR também somos conhecidos (1 Co 13:12).

Prostremo-nos, adoremos o SENHOR face a face e voltemos a nos prostrar.

quinta-feira, março 02, 2023

MAIOR É O QUE SERVE

Daniel é um personagem que aponta para o poder que YHWH decidiu exercer em meio ao governo dos homens enquanto aguardamos o governo do Filho do Homem. 

Esse é um poder sacerdotal na medida em que aquele que o exerce funciona como ponte entre os reis e o Rei dos reis. O Rei dos Céus fala por figuras em sonhos aos reis da terra e esses, intuindo a importância e gravidade da mensagem, buscam entre os homens quem possa revelar a mensagem do Rei dos Céus. 

Esse papel de revelar a mensagem dos Céus a Terra é o papel do sacerdote. Daniel exerce esse sacerdócio fundado no poder sobrenatural que YHWH lhe conferiu, principalmente no tocante a revelar os sonhos dados por Deus aos reis da Terra e no tocante à imunidade desse sacerdote. 

A imunidade de Daniel é demonstrada pelo modo como ele transita em segurança entre os perigos do exílio e das tramas do poder. Daniel, como cidadão de uma Israel, é exilado na Babilônia, como a Igreja que, gerada antes da fundação do mundo, vem a esse número para funcionar como pontífice entre Deus e os homens. 

O poder de Daniel foi reconhecido pelos reis da Terra, inclusive com a humilhação destes diante desse poder. Fica claro que caso YHWH quisesse tornar Daniel o imperador da Babilônia, Ele o teria feito, porém, o reino de Daniel "não era desse mundo". 

Isso nos mostra um tipo de ofício real e sacerdotal (apontando para Cristo) que devemos exercer em nosso contexto terreno. É verdade que fomos chamados a ser cabeça e não cauda, porém, não a cabeça desse mundo decaído, mas a cabeça de um Reino interior, que não vem com visível aparência e que busca conquistar o território mais importante da Terra (o coração dos homens) para YHWH. 

Os instrumentos do poder de Daniel são a espiritualidade sincera e zelosa, a santidade, a capacitação constante para o servir e uma certeza irremovível do seu exato lugar nesse mundo decaído, ou seja, o lugar de quem não veio para reinar sobre os decaídos, mas para preparar o terreno para a vinda do Rei dos reis.