quinta-feira, dezembro 14, 2023

MATA E COME

Quando Pedro foi à casa do centurião Cornélio ele disse: "Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo". 

O SENHOR havia mostrado a Pedro que ele não deveria considerar comum ou imundo nenhum homem e isto ocorrera dois dias antes, durante uma visão que fez Pedro perder os sentidos. 

O que chama a atenção é o modo que o SENHOR escolheu pra trazer essa convicção a Pedro. A visão se deu com o arrebatamento de sentidos, ou seja, Pedro perdeu a conexão com o que ocorria à volta dele e passou a ver, com o espírito, uma outra dimensão onde o céu se abria e dele descia para a terra um vaso, porém, a aparência desse vaso era a de um lençol cheios de coisas, atado pela quatro pontas. 

Havia dentro desse vaso muitas aves do céu, além de animais terrestres, quadrúpedes, répteis e feras e aquele a quem Pedro chamou de senhor mandou do céu que Pedro matasse e comesse tais animais. Pedro objetou que nunca havia comido animal comum e imundo, ao que a voz replicou: "Não faças tu comum ao que Deus purificou" (At 10:15). 

Não há palavras inúteis na Escritura, ‭‭pois toda ela "é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" (2 Tm 3:16), portanto, vamos atentar para o contexto no qual Pedro se encontrava. 

Diz a escritura que Pedro estava em viagem missionária, em Jope, e que por volta de meio-dia, estando com fome, Pedro subiu ao terraço para orar enquanto os da casa lhe preparavam a comida.

Não parece ser despropositado, portanto, que o objeto da visão de Pedro tenha sido matar e preparar o alimento. O SENHOR colocou animais na visão, mas Pedro entendeu perfeitamente que se tratavam de homens. Pedro viu com o espírito aquilo que sua carne necessitava naquele momento. 

Pedro estava orando com fome, que é exatamente o que fazemos quando estamos jejuando. O corpo de Pedro clamava pelo alimento e é provável que a mente de Pedro se dividisse em pensamentos relativos à comida durante a oração. 

Quando o corpo queria o pão da terra, o espírito queria o Pão do Céu e a mente se dividia em pensamentos entre estes dois, o SENHOR trouxe uma convicção a partir de uma visão que se valia dos pensamentos que ocupavam a mente de Pedro naquele momento. 

A mente se dividia entre o interesse pelo alimento celestial e o alimento terreno e justamente nesse momento sobrevém a Pedro uma visão onde ele vê o céu, a terra e o alimento que era tanto natural como espiritual. 

Devemos lembrar que Jesus disse aos discípulos que a sua comida era fazer a vontade do Pai que lhe enviara (Jo 4:34‬) e que a vontade do Pai era que todos os homens se salvassem e chegassem ao pleno conhecimento da verdade (1Tm ‭2:4‬), ou seja, há uma fome que só é saciada com conversões de almas. 

O que o SENHOR fez naquele terraço foi usar a fome de Pedro para demonstrar que Ele mesmo tinha uma fome de salvação e que saciaria essa fome com a morte do ego de homens de toda tribo, língua, povo e nação. 

quinta-feira, dezembro 07, 2023

ALTAR, PÚLPITO, PLATAFORMA, PALCO E PICADEIRO

O *altar* é onde nós encontramos com YHWH, pois a comunhão com o Santo requer o sacrifício do que é decaído. Levítico 6:13 diz que "o fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará”. Esse fogo é o resultado da presença do Espírito Santo em nós. A santidade, em contato com nossa humanidade decaída, gera fogo consumidor. 

O *púlpito* é onde aquele que foi comissionado por Deus no altar serve seus irmãos, partilhando o Pão do Céu que recebera do SENHOR.  

A *plataforma* é o lugar onde a assembleia dos santificados é ministrada. O púlpito fica na plataforma, mas não se confunde com ela. O louvor parte da plataforma, assim como testemunhos, ensinos e até recados para organizar a vida da comunidade espiritual. 

O *palco* é uma distorção do púlpito e/ou da plataforma. Ocorre quando aquele que fala à assembleia performa, em vez de servir. A performance diante da assembleia é um grave pecado. Ananias, por exemplo, performou um personagem diante dos apóstolos. Ele trouxe parte do dinheiro da venda de uma propriedade como se fosse o todo (Atos 5). O objetivo era receber os olhares de aprovação por tamanho ato de abnegação, como ocorrera com Barnabé (Atos 4:37). 

A performance hoje ocorre de muitas maneiras, basicamente quando ofertamos à assembleia um dom como se fosse um serviço ao SENHOR, quando na verdade é um serviço à própria imagem. Seja cantando, tocando, pregando ou testemunhando, a performance ocorre quando a motivação interior, ao contrário do que parece, não está na entrega dos dons, mas na recepção dos olhares e das atenções. 

Este não é um pecado contra o corpo, como a impureza, mas um "pecado fora do corpo" (I Co 6:18) e que, ademais, é cometido a pretexto de ser espiritual. 

Seja salmo, doutrina, revelação, língua, interpretação (1 Co ‭14:26‬), louvor ou testemunho, quem os tem deve entregá-los à assembleia para edificação de todos, porém, a motivação deve ser integralmente a entrega, pois o SENHOR, que confere os dons, não divide a glória dele com ninguém. 

O *picadeiro*, por último, é mais do que uma distorção do púlpito e da plataforma. É uma verdadeira desgraça, pois ocorre quando aquilo que já era um palco se deteriora ainda mais. No picadeiro a oferta vira um negócio, a pregação vira mera profissão, o louvor vira um produto e, como palhaços, ninguém é mais aquilo que aparenta. 

Que o SENHOR nos conserve íntegros no seu altar, para que todo o nosso agir seja santo em nossos púlpitos e plataformas. 




quarta-feira, novembro 15, 2023

DISCIPULADO PARA O CASAMENTO

 

(mensagem enviada aos homens do grupo pequeno)

Estava estudando sobre casamento a partir da Bíblia e me dei conta da direção que tenho condições de apontar para vocês e para a casa de cada qual, caso queiram falar e se abrir sobre esse tema.

Entendo que cada um pode ter a própria ideia quanto a como ser ajudado em relação ao casamento, mas de meu lado também parto de uma experiência de campo, não apenas de um casamento que se estabeleceu, mas também de ministrar outros casais, tanto aqueles que continuaram juntos, como os que se separaram, porque, afinal, você pode levar alguém à fonte, mas não pode forçá-lo a beber água.

Pois bem, a direção que posso apontar é aquela na qual o casamento não é um fim em si mesmo. Isso significa que considero que o mais importante não é salvar o casamento, mas o que advém dele.

Antes de considerarmos no que advém do casamento, devemos observar o quanto esse tema é central nas Escrituras. A Bíblia começa num casamento em Genesis (Primeiro Adão com Eva) e termina num casamento no Apocalipse (Último Adão com a Igreja). O objetivo da arca foi livrar do grande dilúvio o fruto de um casamento (Noé) e o povo de Deus tem seu início na ordem para que um homem casado (Abraão) levasse sua mulher estéril à uma terra distante para ali ser o pai de uma grande nação. Cada uma das gerações seguintes (Isaque, Jacó e seus doze filhos) teve aspectos do seu casamento mencionados na Bíblia, sendo que o mesmo ocorreu com Moisés, com juízes como Sansão e com reis como Davi. Embora Jesus não tenha sido concebido a partir de um casamento no sentido estrito, mas a partir de uma virgem coberta pela sombra do Altíssimo, o Messias cresceu em estatura e graça no seio de um casamento (José e Maria) e ali foi instruído na Torá, nos costumes judaicos e na profissão da carpintaria.

Dito isso, o que é que advém de um casamento segundo o modelo de Deus? Obviamente que os frutos de um casamento são os filhos, pois Deus ordenou ao primeiro casal que frutificasse, multiplicasse, enchesse a terra, a sujeitasse e a dominasse. Porém, não é qualquer filho que vai sujeitar e dominar a terra, mas aqueles gerados, criados e instruídos no seio de uma família.

Filhos fora da família eram considerados bastardos e como tais eram considerados como não tendo instrução/disciplina (Hb 12:8), pois a instrução é dada pelo pai e aqueles que não receberam instrução de pai tem enormes dificuldades de receber a instrução de Deus, sendo essa a razão pela qual é negado aos bastardos o acesso à Congregação do Eterno (Dt 23:2). Obviamente que para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis (Mt 19:26) e é ele que nos atrai com cordas de amor e nos dá a sua paternidade. Dito de outro modo, a bastardia bíblica é mais que uma pessoa sem o pai biológico no registro. Antes, é uma condição espiritual mesmo daqueles que tiveram pais presentes na casa, mas ausentes de suas vidas.

Portanto, a partir desse entendimento, e voltando ao tema do casamento, a união do casal não é um fim em si mesmo e sim um meio para gerar filhos instruídos quanto aos valores do Reino de Deus.

Aqui é preciso levar em conta que Deus não está interessado na vida biológica em si mesma, pois, se fosse assim, Deus teria feito o corpo natural do homem dotado de eternidade. Não é o que ocorre, até porque “preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos” (Sl 116:15), ou seja, Deus nos escolhe para vir ao mundo, nos separa e nos designa à uma missão (Jr 1:5), depois tece os nossos órgãos no ventre de nossa mãe para nos fazer nascer nesse mundo (Sl 139:13) e, logo em seguida, recolhe a nossa vida na morte. Aliás, para Deus o tempo da nossa vida é como um sopro, como a sombra que passa (Sl 144:4), portanto, ele nos predestina, nos dá vida e logo a seguir nos recolhe na morte.

Para nós isso não faz sentido, mas para ele, “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24). Por isso, quando Deus nos cria ele não está diretamente interessado em nosso “tabernáculo terrestre” (corpo natural), mas sim em nosso “tabernáculo celeste”, que é o nosso corpo espiritual. Esse corpo espiritual é eterno e não multiplicável, pois quando ressuscitarmos não casaremos e nem nos daremos em casamento, mas seremos como os anjos (Mt 22:30). Isso nos leva a concluir que Deus gera um ser humano no ventre de sua mãe para que, na verdade, esse ser receba uma alma que habitará eternamente um corpo espiritual (espírito), fazendo parte da família de Deus.

Dito de outra forma, Deus está criando a sua família e, para isso, ele nos dá uma fase terrestre onde vivenciamos o que é sombra das coisas futuras. Assim como um ser humano vive uma fase uterina antes de nascer, crescer e se desenvolver, a nossa alma imortal também vive uma fase terrestre antes da vida eterna.

Concluindo, nem o casamento e nem a família são fins em si mesmos, mas meios de Deus gerar para si uma família eterna. Nesse contexto, reparem como fica sem sentido dizer coisas como:

·        “eu não estou sendo feliz nesse relacionamento”;

·        “eu gostaria de uma mulher que fizesse isso e aquilo pra mim”;

·        “eu só quero ser feliz”;

·        “eu não aguento mais que ela faça isso ou aquilo”

Tais pensamentos não tem sentido porque são centrados no “eu”, quando o objetivo do casamento não é o “eu” e sim Deus. O casamento tem por objetivo o que Deus quer e não a satisfação do ser humano. Deus quer almas sendo geradas e instruídas na Palavra do Reino e, para isso, ele não nos obriga a casar e nem escolhe a mulher de ninguém, mas conta com a palavra de homem (sim, “sim” e não, “não) para fazer da família um ambiente missional.

Um homem que “se deu bem na vida” é aquele cujos filhos são firmados na Rocha e constituíram famílias de filhos firmados na Rocha. Filhos desviados do Caminho são a prova do fracasso do homem como líder familiar, embora o Senhor nos perdoe os fracassos, nos mantenha no seu plano pela sua graça e nos dê esperança de ver os filhos rendidos ao senhor, retirando o nosso opróbrio (desonra).

Agora, olhe para o seu casamento ou para o casamento que você quer ter (no caso dos viúvos, divorciados ou solteiros) e se pergunte se você está disposto a se submeter a esses valores na formação do casamento e da família. Se a sua resposta é sim, estou disposto a te ajudar a alinhar teus passos para que o teu casamento seja exatamente isso, ou seja, uma relação marital da qual emana uma família missional. Se, contudo, você quer menos que isso, ou seja, se você só não quer ficar sozinho e quer alguém que corresponda às suas expectativas, não pretendo de iludir, pois não tenho por que trabalhar por esse objetivo puramente humano e não divino, até porque cada qual pode dar conta disso sozinho. Trabalhamos para o Senhor e o que deve dirigir nossos passos é o objetivo do Reino, ou seja, o que nos interessa é que os seus filhos tenham um destino em Deus, diferente do destino que seus pais tiveram segundo o mundo até aqui.

E o caso dos viúvos e divorciados, onde não há filhos ou onde há filhos “meus, teus e nossos”, como agir? No caso daqueles, os filhos do cônjuge devem ser como os próprios filhos e vice-versa. No casamento que, por qualquer razão, não tenha filhos, o alvo há de ser o estabelecimento do testemunho como casal, como fonte de inspiração para os casais mais jovens da igreja local. Isso demonstra que o evangelho é baseado no que Deus quer para si através do homem, que é seu instrumento, e não no que o homem quer para si tendo Deus por instrumento.

Medite nisso e agende o seu tempo para falarmos sobre o seu casamento, se é que tens necessidade de compartilhar teus desafios nessa área.

segunda-feira, novembro 13, 2023

POSSO EXIGIR DESCULPAS COMO CONDIÇÃO PARA PERDOAR?

O cristão deveria condicionar o perdão ao pedido de desculpas daquele que lhe ofendeu?

De um lado, Jesus nos manda perdoar como somos perdoados e, como se sabe, ninguém é perdoado sem demonstrar a Deus a sua culpa. 

Confessar os pecados é uma forma de demostrar a culpa, assim como pedir o perdão ao SENHOR ou aceitar o seu senhorio e a sua salvação, porque ao aceitar alguém que mande em mim eu admito o caminho superior desse governante e ao aceitar um salvador eu aceito o fato de que estou perdido. 

A expiação se consumou num dado dia e hora, há mais de dois mil anos, quando estava encarnado aquele que se fez expiação. Já o perdão se consuma quando está encarnado aquele que é perdoado, quer ele tenha vivido antes ou depois da expiação. Davi e o ladrão da cruz, assim como eu e você, somos beneficiados com a expiação ocorrida na cruz, porém, cada qual é perdoado no momento em que demonstra ao SENHOR a sua culpa. 

Por isso, se a demonstração da culpa é uma condição para eu ser perdoado e se eu devo perdoar como sou perdoado, então aquele que me ofendeu deveria demonstrar sua culpa para que eu também o perdoe. Isso não muda o fato de que devo falar bem dele e fazer-lhe o bem, pois até aos inimigos devo amar, mas o perdão estaria condicionado à demostração de culpa. 

Isso seria assim, não fosse o fato de que eu mesmo sou pecador. 

É que eu perdoo porque fui perdoado, enquanto Deus perdoa por uma razão bem diferente: porque Ele é bom. 

Quando eu demonstro a minha culpa eu admito a inferioridade do meu padrão moral em relação a Deus. Isso é imprescindível para legitimar o seu governo sobre mim e a santidade da sua oferta para expiar a minha culpa. Porém, quando alguém demonstra a sua culpa por ter me ofendido, isso não significa que o meu padrão moral seja superior ao dessa pessoa. Ao contrário, o padrão moral do ofendido e do ofensor são igualmente decaídos. 

Dito de outro modo, Deus não precisava me perdoar, mas perdoou, já eu preciso perdoar, pois mesmo não merecendo o perdão eu o recebi, de modo que fico devedor, a Deus, desse mesmo perdão aos que me ofenderam. 

Se esta lógica espiritual não bastasse, ainda assim teríamos as palavras de Jesus, que disse, "quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas" (Marcos‬ ‭11:25‬).

quinta-feira, novembro 09, 2023

HAVIA TRÊS ÁRVORES NO JARDIM

YHWH não negou a Adão e Eva o conhecimento do bem e do mal, apenas proibiu que eles se alimentassem desse conhecimento.

O jardim do Éden tinha três tipos de árvore: 

1) a Árvore da Vida, que estava no meio do jardim, em local privilegiado e cujo fruto deveria ser comido livremente pelo homem (Gn 2:16);

2) a árvore do conhecimento do bem e do mal, em local não definido e cujo fruto o homem não deveria comer, sob pena de morrer naquele "dia";

3) as muitas árvores agradáveis à vista e boas para alimento (Gn 2:9), que certamente estavam distribuídas pelo jardim e das quais o homem deveria comer livremente. 

Adão passou a ser alma vivente quando Deus soprou o fôlego da vida num corpo de terra. O que vemos aí é um elemento, somado ao um segundo elemento, transformando-se num terceiro. O Livro da Criação (Rm 1:20) nos descreve isso como "química", a transformação da matéria. Uma das reações químicas mais básicas é aquela pela qual se forma a água, onde dois átomos de hidrogênio se combinam a um átomo de oxigênio. 

Observem se não é mais ou menos isso que Gênesis nos descreve, pois YHWH pega o barro, sopra sobre ele o seu fôlego de vida e disso advém uma alma vivente humana. E o mais interessante é que assim como na eletrólise da água é possível separar o hidrogênio do oxigênio, a Palavra de Deus, que é viva e eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, penetra até ao ponto de dividir a alma do espírito (Hb 4:12).

Quando olhamos para a água não vemos oxigênio ou hidrogênio, que são gases, mas apenas o corpo formado pela junção desses dois elementos. Do mesmo modo, quando olhamos para o ser humano não vemos o barro e o fôlego de vida, mas apenas o conjunto formado por esses dois elementos. 

Embora à primeira vista não possamos distinguir os reagentes humanos (terra e espírito) do seu produto (alma), sabemos que são três elementos que devem ser considerados tanto em conjunto como individualmente. Tanto é  assim que o mesmo Deus da paz nos santifica em tudo, no espírito, alma e corpo (1 Ts 5:23). 

Voltando às árvores plantadas por Deus no Éden, vemos que são três tipos, o que provavelmente correlaciona um tipo de fruto para cada elemento humano. 

Para o corpo temos o fruto das muitas árvores agradáveis à vista e boas para alimento. Para o espírito temos a Árvore da Vida e para a alma o fruto do conhecimento do bem e do mal.

Então, se o conhecimento do bem e do mal é justamente para a alma, por que o homem não podia se alimentar do fruto dessa árvore? 

Observe que Deus disse que o homem deveria se alimentar livremente de todas as árvores e aí ele inclui a Árvore da Vida. Pressupõe-se, então, que nalgum momento o homem comeria do fruto da Árvore da Vida e aí ocorreria com ele o que está descrito em Genesis 3:22‬, ou seja, passaria a viver eternamente. Uma vez eterno, o homem jamais poderia morrer e só então ele poderia passar a ser conhecedor do bem e do mal. É preciso a incorruptibilidade da vida eterna para enfrentar o mal, por isso, a proibição não era propriamente para que o homem permanecesse na ignorância, mas para que não obtivesse o conhecimento do bem e do mal ANTES de ter buscado vida eterna. 

YHWH diz que ao comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal o homem se tornou "como um de nós", ou seja, ele se tornou como as Pessoas da Trindade no tocante ao conhecimento, passando a ser "conhecedor do bem e do mal". Se Deus é conhecedor do bem e do mal então esta não é uma condição ruim em si mesma, pois Deus é santo e certamente o fato de conhecer o bem e o mal não compromete essa santidade. Isso nos mostra que o perigo não era conhecer o bem e o mal, mas sim conhecê-lo sem antes estar dotado de Vida Eterna. 

Dito de outro modo, o fruto do conhecimento do bem e do mal poderia ser um veneno, sendo que o fruto da Árvore da Vida seria o seu antídoto.

Para reforçar esta ideia, observe que o texto bíblico inclui a palavra "dia" quando fala do resultado da desobediência. A escritura diz que a morte decorrente da ingestão do fruto do conhecimento do bem e do mal viria no "dia" em que esse fruto fosse comido. 

Ora, a palavra dia pressupõe o espaço-tempo dimensionado, conceito este que se opõe a eternidade, onde as dimensões do espaço-tempo não se opõe ao agir de Deus, pois YHWH mede os céus com a palma da mão, sendo que um dia lhe é como mil anos e mil anos, como um dia. 

O que se demonstra aí é que o homem, sendo a semelhança do Criador, não foi criado para ficar circunscrito a uma unidade infinitesimal do universo, como ocorre hoje conosco, mas foi criado para a eternidade, para interagir com a criação onde quer que seja, sem limitação de espaço-tempo. Para tanto, o homem deveria escolher comer do fruto da vida eterna; caso em que, sendo eterno como é YHWH, ele saberia todas as coisas, tendo a mente de Cristo e conhecendo perfeitamente o bem e o mal. Porém, em vez disso, o homem optou por esse conhecimento sem antes viver eternamente. O momento em que o homem morre no espírito é aquele em que a sua desobediência à Deus se inicia, não podendo ela superar o tempo de 129 anos (Gn 6:3).

Precisamos considerar que quando Deus cria um ser inferior aos anjos à sua imagem e semelhança, os anjos já haviam se dividido, e um terço deles já estava condenado à perdição eterna, aprisionados neste mesmo planeta onde Deus planta o homem. Por isso Deus, quando cria o homem na ignorância, sem conhecimento do bem e do mal, coloca diante do homem a opção de obedecer e viver eternamente - passando a ser como Ele, conhecedor do bem e do mal - ou desobedecer, passando a um saber desprovido de moral, ou seja, bem e mal sem antes exercitar certo e errado. 

A mensagem que fica é que o bem é pautado no que é certo e o mal no que é errado, todavia, o certo será aquilo que Deus assim considere, e errado aquilo que Deus disser que é errado, de modo que só podemos chegar ao conhecimento tanto do bem, como do mal, pela obediência a Deus e, ainda, só podemos lhe obedecer se tivermos íntima comunhão com Ele, o que requer que comamos de sua carne e bebamos do seu sangue, um símbolo neotestamentário que, no velho testamento, tem o seu correspondente no ato de se alimentar da Árvore da Vida. 

Fomos feitos à imagem e semelhança do Criador e só na íntima comunhão com Ele poderemos obedecê-lo. Adão desobedeceu ao comer do fruto do conhecimento do bem e do mal, porém, já havia desobedecido antes, quando deixou de comer da Árvore da Vida e também quando deixou de lavrar o jardim, retirando dele a árvore cujo fruto não podia ser comido. 

Temos dentro de nós, hoje, um jardim regado pelas águas do Espírito, o qual devemos lavrar diariamente retirando dele todos os cardos espinhos e nos esforçando para arrancar, até pela raiz, a árvore do conhecimento do bem e do mal, tudo isso sem nos esquecer de nos sentarmos à sombra da grande Árvore da Vida, buscando cura com as suas folhas e nos alimentando de seu fruto. 
  


segunda-feira, julho 31, 2023

SER USADO OU SE FAZER USADO?

YHWH age por meio de sua Palavra, até porque a Palavra encarnada é o Verbo de Deus, ou seja, é "Deus agindo", pois em Jesus "habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade" (Cl 2:9). 

Por isso, se alguém proclama a Palavra com fé, essa Palavra é operante, mesmo se esse alguém não servir a Deus com todo o seu ser. 

Jesus disse: "Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo." (Jo 12:26), ou seja, os servos do SENHOR devem segui-lo e devem estar onde Ele está, lugar esse que necessariamente é um lugar de santidade. 

Muitos desobedecem esse mandamento, ou seja, insistem em servir a Deus sem segui-lo, o que só é possível porque tais pessoas aplicam com fé a Palavra de Deus e usam a Palavra como espada de um só gume, que só corta para fora, mas nunca para dentro. 

Essas pessoas não são usadas por Deus, mas, antes, se fazem usar por Deus e esse agir é fundado numa iniciativa humana e não divina. Ademais, é comum que tais pessoas usem a Deus em vez de serem usadas por Ele. 

Ainda que tais pessoas falem em nome de Deus na terra e ainda que as Palavras de Deus por elas proferidas sejam operantes para profetizar, exorcisar e operar milagres, o SENHOR não as conhece e busca se afastar delas, pois elas, em vez de seguir a Jesus na prática da justiça, praticam a iniquidade (Mt 7:22-23).

Eis a razão pela qual algumas pessoas - como o Apóstolo Paulo - sentirão o constantemente desconforto pelo mal que fazem e pelo bem que não fazem. Sem esse desconforto elas se acomodariam na prática da iniquidade, de modo que o dom nelas depositado continuaria inerte, sem ser usado por Deus. 

O inconformismo consigo mesmo leva o homem a deixar a iniquidade e a buscar a justiça, passando a seguir ao SENHOR e, consequentemente, ser usado por Ele. 

Portanto, a Palavra viva e operante de Deus está na boca de dois tipos de homens: aqueles que praticam a justiça, que andam com Deus e a quem Deus conhece e, por outro lado, aqueles que praticam a iniquidade, de quem Deus se aparta e a quem Deus não conhece.

E nós, interessados em ouvir a Palavra de Deus proferida pelos homens, como podemos identificar um profeta verdadeiro e um falso?

Jesus nos ensina que conheceremos uma árvore pelos seus frutos (Mt 7:16). É um exercício cognitivo que vai para além da aparência. O fruto precisa ser olhado, colhido, provado e digerido, para então se dizer conhecido por quem dele provou. 

E não imaginemos que encontraremos todos os falsos profetas numa extremidade e os verdadeiros na outra, ou que os verdadeiros profetas estarão prosperando e os falsos profetas em ruína, porque ambos vão crescer juntos até a ceifa, como o joio e o trigo (Mt 13:30). 

Por fim, quem quer ser usado por Deus deve segui-lo e nesse caminho há uma cruz para mortificar a carne. Se você não vir a cruz naquele que diz estar sendo usado por Deus, é provável que ali só haja alguém se fazendo usar por si mesmo, como um bronze que soa ou um címbalo que retine. 







sábado, julho 22, 2023

ESFORCEMO-NOS

Você não vale nada. Nem eu. É quem está em nós que vale mais que tudo o que foi criado. 

Se o pecador valesse alguma coisa não estaria de antemão condenado à perdição eterna, descartado em cacos na montanha de refugos do Oleiro. O SENHOR deu uma vida humana à sua Palavra e se agradou grandemente dessa Vida, entregando-a por uma montanha de refugo. 

Há quem pense que Jesus não morreu por ele, mas pela humanidade e que a quantidade de remidos justificaria o sacrifício. 

Não é assim. O pecador não vale nada, seu valor é igual a zero e o que se multiplica por zero, é zero. 

Não importa à quantos bilhões de indivíduos a salvação foi ofertada, se a soma desses indivíduos não tem valor algum. Nós, que não valíamos coisa alguma, fomos comprados pelo Rei da Criação e o preço não foi algo perecível como prata ou ouro (sim, perecem frente à eternidade), mas o seu precioso Sangue, no qual estava a Vida do próprio Deus. 

Há quem pague pelo lixo reciclado, mas é loucura pagar por aquilo que já nasceu como lixo, sem préstimo algum. Essa loucura tem um nome:  Amor Incondicional. 

De nada adiantaria Jesus ter comprado a "humanidade" se você e eu, individualmente, não estivéssemos aí incluídos, ademais, com um novo nome que nos foi dado antes da fundação do mundo. 

Embora a salvação estivesse reservada para a "humanidade", a perdição da maioria dessa "humanidade" é igualmente predita. É tão verdadeira a remissão da minoria quanto é verdadeira a perdição da maioria. Estar entre os salvos, com uma senha pessoal e intransferível, com o seu nome escrito nela, é um privilégio indescritível que jamais poderia ser merecido. 

Quem passou da metade da caminhada já vê ao longe a porta estreita. Esforcemo-nos por passar por ela. Não é o esforço que conta, mas as cordas de amor daquele que nos atrai porta adentro, porém, sem nos esforçarmos contra a nossa carne ela certamente escolheria outro caminho e outra porta. O esforço, portanto, não é pra merecer a salvação, mas pra não escolher a perdição. 

Esforcemo-nos. 

terça-feira, julho 11, 2023

O QUE É "EM O NOME" DE JESUS?

O que significa completar uma ação ou proclamação dizendo "em O nome de Jesus"? 

Ao ingressar na família da fé ouvimos tantas vezes essa expressão que acabamos incorporando o hábito, mas na maioria das vezes sem uma compreensão mais profunda do que significa estar, agir ou falar "em O Nome de Jesus". 

Essa expressão ocorre primordialmente no livro de Atos.

Duas vezes é ordenado que os que crêem sejam batizados "em O nome de Jesus" (At 2:38 e 10:48). 

Ao coxo de nascença é determinado que se levante "em O nome de Jesus" (At 3:6) e outras duas vezes Pedro atribui o milagre ao "em nome O de Jesus" (At 3:16 e 4:10). 

Duas vezes as autoridades religiosas judaicas advertiram os discípulos que não falassem ou ensinassem em nome de Jesus" (At 4:18 e 5:40) e Paulo admitira que antes de se converter lhe "parecia que muitas coisas devia praticar contra o nome de Jesus" (At 26:9). 

Uma vez é dito que Filipe "evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo" (At 8:12) e uma vez um espírito imundo foi expulso "em O nome de Jesus" (At 16:18).

Dizem alguns que agir ou falar "em O nome de Jesus" é como o exercício de um mandato fundado numa procuração. Naquela época o mandato era (e ainda é) um contrato no qual o mandante encarregava alguém (o mandatário) de cumprir voluntária e gratuitamente uma atividade em seu favor ou de terceiro.

Realmente o agir ou falar "em O nome de Jesus" se parece com um mandato, especialmente quando lembramos que Jesus nos deu "autoridade para pisar serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo", sem que nada, absolutamente, nos causasse dano (Lc 10:19), porém, ao pensarmos um pouco mais sobre o tema, vemos que é mais que isso e até diferente disso nalguma medida. 

No contrato de mandato o mandante comissiona o mandatário em geral porque não pode estar no local onde sua vontade deve ser realizada ou porque não tem algum conhecimento ou prerrogativa para realizar aquela vontade, como no mandato advocatício. 

Mas não é assim quando agimos ou falamos "em O nome de Jesus", pois Ele está presente onde sua vontade é feita, bem como em qualquer outro lugar, e, ainda, Ele pode tudo o que o mandatário  pôde e ainda tem todo o poder no céu e a terra, tendo vencido inclusive a morte. 

Porém, não é essa a principal diferença, mas sim o fato de que no mandato o mandante é um e o mandatário é outro, enquanto que quando agimos ou falamos "em O nome de Jesus" nós somos um com Ele. 

Por isso, agir "em o nome" é ainda mais poderoso do que agir "em nome". Mandatários agem "em nome" dos mandantes, mas quando somos um com Cristo nos agimos "em O nome", ou seja, "no nome", o que significa investidos desse nome como se esse fosse uma "firma" ou um nome coletivo que muitos podem usar ao mesmo tempo, que nos obriga a todos e nos co-responsabiliza pelo uso desse nome. 

Mandatos requerem uma procuração assinada pelo mandante, já para agir em nome de Jesus basta a mera atuação, ainda que o mandante sequer conheça o mandatário, como Jesus dirá a alguns que profetizarem e expulsarem demônios em seu nome (Mt 7:22). Porém, pra falar e agir "em O nome de Jesus" é preciso ser um com Ele, o que só ocorre se nascermos de novo e para sempre de seu Espírito. 

Qualquer um pode agir "em nome" de Jesus, mas somente Jesus pode nos encarregar de agir "em O nome", ou "no" seu nome. 

Em razão da carne do pecado, não é incomum que aqueles que se fizeram um com o SENHOR e que podem de fato agir "no nome" dEle, acabem agindo somente "em nome" Jesus. 

Isso ocorre quando alguém age na presunção de que Jesus está agindo por ele, mas na verdade é ele que está usando o nome do Jesus para agir em nome próprio. 

Apenas quando negamos a nós mesmos desfrutamos de uma sensibilidade indispensável para discernir o que Jesus quer seja feito, quando ele quer que seja feito. Do contrário, corremos o risco de supor o que Jesus quer e acabamos usando o nome dele em vez de ser usados por Ele. 

Agir "em O nome de Jesus" é atuar incorporado ao Corpo que na terra manifesta a presença de Jesus, e eu tremo quando penso nisso. É agir dEle, por Ele e para Ele. 

terça-feira, julho 04, 2023

SANTIDADE HUMANA

Santidade é o resultado da potência e predominância da Vida do Espírito naquele que é nascido de novo. 

Não há quem não peque (1 Rs 8:46 e Ec 7:20), porém, há pecados do crente que não trazem acusação ao seu coração (1 Jo 3:20), seja porque tais pecados são ocultos àquele que os comete (Sl 19:12-13), seja porque já tem a consciência cauterizada (1 Tm 4:2) e é incapaz de se arrepender (Hb 6:6). 

O mal que fazemos nos acusa muito mais do que o bem que não fazemos (Rm 7:19) e, dentre aqueles, há pecados que acionam o mecanismo da culpa e os que não. 

Os pecados que não geram culpa normalmente são aqueles que praticamos à luz do dia, diante de todos e na certeza (equivocada) de que estamos certos. 

Exemplo disso é o apóstolo Pedro, que diante dos demais apóstolos repreendeu Jesus pra não ir à cruz achando que estava fazendo uma coisa boa (Mt 16:23) e, por outro lado, foi corroído pela culpa ao negar Jesus diante de ímpios e desconhecidos (Mt 26:74). O primeiro pecado foi praticado sem discernimento e, portanto, sem culpa. Já o segundo pecado foi praticado com uma culpa persistente. 

Entende errado quem acha que merece maior condenação o pecado que carrega consigo uma culpa angustiante. Assim como ocorreu com Pedro, o nosso Advogado (1 Jo 2:1 e MC 16:7) pode vir em nosso socorro com a nossa propiciação, pois a culpa demonstra que concordamos com a lei, que é boa (Rm 7:16), porém, aquele que peca sem culpa e sem discernir os próprios erros pode chegar no último dia com uma lista de realizações e ainda assim ouvir do SENHOR: "nunca vos conheci, apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mt 7:23).  

A única santidade humana isenta de pecado foi a de Jesus. Quanto aos demais irmãos, a santidade estará presente não pela ausência de pecado, mas pelo caminho trilhado em constante arrependimento por todos os pecados, inclusive os omissivos e aqueles que não são identificados ou compreendidos, mas são aceitos como pecados e levados aos pés da cruz. 

Por isso, aqueles que discernem os próprios erros, que andem agarrados à graça superabundante (I Co 9:14, Rm 5:20) pedindo perdão por todo pecado, ainda que pela septuagésima vez no mesmo dia (Mt 18:22). 

Já os que andam alheios à culpa - não porque não pequem, mas porque não discernem os próprios erros - que lhe suceda como a Paulo, que alcançou misericórdia e passou a ver depois que as escamas lhes caíram dos olhos (At 9:18), nem que pra isso tenha que cair do cavalo. 

 


 









quarta-feira, março 15, 2023

AJOELHADO OU FACE A FACE?

 

O SENHOR estende as mãos todos os dias a um povo rebelde (Is 65:2) e é justamente porque a carne do pecado é orgulhosa e desobediente que precisamos nos prostrar diante dEle, porém, o fato de precisarmos nos humilhar não significa que o SENHOR nos queira prostrados continuamente em sua presença.

Aliás, essa imposição para que os súditos se prostrem é uma característica do príncipe deste mundo (João 12:31) e não do Reis dos reis (Ap 19:16). Exemplos disso nós vemos na passagem em que o diabo diz a Jesus “tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4:9), na passagem em que o imperador Nabucodonosor decreta que qualquer que não se prostrasse diante dele, e não o adorasse, seria lançado dentro da fornalha de fogo ardente (Dn 3:11), e também na passagem em que o rei Assuero exige que todos se prostrem perante Hamã, seu ministro (Es 3:2).

Já o Eterno, o Criador do universo, “falava a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo” (Ex 33:11) e sobre Moisés diz a Escritura que “nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o SENHOR houvesse tratado face a face”.

É verdade que primeiramente Moisés subiu ao monte para receber as tábuas de pedra da aliança e ali permaneceu por quarenta dias e quarenta noites em jejum absoluto (Dt 9:9), e disse “prostrei-me perante o Senhor; aqueles quarenta dias e quarenta noites estive prostrado, porquanto o Senhor dissera que vos queria destruir” (Dt 9:25), o que indica que Moisés esteve prostrado muito mais para se humilhar em nome do povo rebelde do que em nome próprio.

Aliás, é disso que precisamos, ou seja, chegar à presença do SENHOR prostrados, adorá-Lo, dar nossa face ao que nos fere e nos fartar da afronta, pois é certo que o SENHOR não nos rejeitará (Lm 3:31).

Falar face a face é coisa de amigo, como se deu entre Moisés e o SENHOR, porém, YHWH nos quer fazer a todos como amigos, tanto que Jesus nos diz “já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo 15:15).

Jacó, quando recebeu a certeza da salvação, em Peniel, disse “tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva” (Gn 32:30) e Gideão também exclamou “Ah, Senhor DEUS, pois vi o anjo do SENHOR face a face”, quando viu subir fogo da penha e consumir a carne e os pães ázimos da oferta diante do Anjo do Senhor, uma provável teofania de Cristo (Jz 6:21-22).

Nem todo ato de se prostrar diante do SENHOR significa submissão à sua vontade, como vemos na passagem do jovem rico, que se ajoelhou diante de Jesus quando lhe convinha, mas deu as costas ao Mestre quando contrariado pela vontade do Pai (Mc 10:17-22). Balaão, torto de caráter, é o único de quem se diz que profetizou prostrado, mas de olhos abertos (Nm 24:16).

Devemos andar “perante a face do Senhor na terra dos viventes” (Sl 116:9) para que digam os moradores da terra que o SENHOR, que está no meio do seu povo, face a face lhes apareces (Nm 14:14), porém, isso não afasta os momentos em que reverentemente nos prostraremos, pois até “os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentado no trono, adorarão o que vive pelos séculos dos séculos e depositarão as suas coroas diante do trono” (Ap 4:10).

Por fim, observe que falar face a face aponta tanto para uma conversa de amigos, olho no olho e a certa distância, como também pode denotar a face do SENHOR bem próxima a face do homem, o que nos remete à nossa criação, quando “formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, soprou em suas narinas o fôlego da vida e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2:7).

A comunhão de Adão com o SENHOR dava-se na viração do dia, quando o Senhor Deus passeava no jardim (Gn 3:8), porém, morto o espírito do homem pelo pecado, o contato passou a se dar intermediado pela morte em sacrifício. Como o filho da viúva Serepta, que morrera, somos trazidos de volta à vida quando a voz profética se estende sobre nós, face a face, e nos devolve o Espírito, o Fôlego de Vida (1 Rs 17:21).

Por fim, ainda que hoje vejamos essas coisas “por espelho, em enigma”, um dia “veremos face a face” e conheceremos o SENHOR também somos conhecidos (1 Co 13:12).

Prostremo-nos, adoremos o SENHOR face a face e voltemos a nos prostrar.

quinta-feira, março 02, 2023

MAIOR É O QUE SERVE

Daniel é um personagem que aponta para o poder que YHWH decidiu exercer em meio ao governo dos homens enquanto aguardamos o governo do Filho do Homem. 

Esse é um poder sacerdotal na medida em que aquele que o exerce funciona como ponte entre os reis e o Rei dos reis. O Rei dos Céus fala por figuras em sonhos aos reis da terra e esses, intuindo a importância e gravidade da mensagem, buscam entre os homens quem possa revelar a mensagem do Rei dos Céus. 

Esse papel de revelar a mensagem dos Céus a Terra é o papel do sacerdote. Daniel exerce esse sacerdócio fundado no poder sobrenatural que YHWH lhe conferiu, principalmente no tocante a revelar os sonhos dados por Deus aos reis da Terra e no tocante à imunidade desse sacerdote. 

A imunidade de Daniel é demonstrada pelo modo como ele transita em segurança entre os perigos do exílio e das tramas do poder. Daniel, como cidadão de uma Israel, é exilado na Babilônia, como a Igreja que, gerada antes da fundação do mundo, vem a esse número para funcionar como pontífice entre Deus e os homens. 

O poder de Daniel foi reconhecido pelos reis da Terra, inclusive com a humilhação destes diante desse poder. Fica claro que caso YHWH quisesse tornar Daniel o imperador da Babilônia, Ele o teria feito, porém, o reino de Daniel "não era desse mundo". 

Isso nos mostra um tipo de ofício real e sacerdotal (apontando para Cristo) que devemos exercer em nosso contexto terreno. É verdade que fomos chamados a ser cabeça e não cauda, porém, não a cabeça desse mundo decaído, mas a cabeça de um Reino interior, que não vem com visível aparência e que busca conquistar o território mais importante da Terra (o coração dos homens) para YHWH. 

Os instrumentos do poder de Daniel são a espiritualidade sincera e zelosa, a santidade, a capacitação constante para o servir e uma certeza irremovível do seu exato lugar nesse mundo decaído, ou seja, o lugar de quem não veio para reinar sobre os decaídos, mas para preparar o terreno para a vinda do Rei dos reis.