quarta-feira, agosto 16, 2006

MARATONA DE ORAÇÃO

A sociedade em que vivemos moldou o hábito, já bem arraigado, de agir em tudo com brevidade. Símbolo máximo desta tendência é o fast food, ou comida rápida, onde o homem submete uma necessidade vital, o alimentar-se, à um tempo insuficiente, a fim de tornar “produtivo” o tempo que deveria utilizar para a alimentação.

É assim em relação ao pão natural e não é diferente em relação ao pão espiritual. Jesus é o Pão da Vida o qual é nosso alimento espiritual e de quem depende toda a nossa eternidade. O tempo que passamos em oração, com Deus, alimentando-nos do Pão da Vida, é um indicativo de como anda nossa vida espiritual.

É comum escutar durante uma pregação na igreja ou mesmo durante um culto de oração um pastor dizendo “vamos pregar uma palavra rapidamente” ou então orações brevíssimas, que justamente por serem breves demais acabam por não desatar o fardo da oração que nos é delegado pelo Espírito Santo.

Imagine alguém que marcou uma audiência com um Governador e que uma vez diante da autoridade passe a expor sua necessidade no modo “relâmpago”, ao final levantando e deixando a autoridade para trás, como se fosse uma estátua muda. Aliás, penso mesmo que tais orações relâmpago tem origem na idolatria, donde se ora para ídolos mudos.

Quem procede assim certamente não há de receber nada do Governador. É preciso entrar na presença do governante, reconhecer sua autoridade, ser específico no pedido, justificar sua procedência e sensibilizar a autoridade quanto a necessidade de que seja atendido o pedido. Não se pode fazer isto no modo “relâmpago”.

Ademais, é preciso estar preparado para a interação com a autoridade, para ser argüido, para ter os intentos mudados, para se deixar levar pelos argumentos da autoridade. Quando oramos é preciso estar sensível ao Espírito Santo para que este exponha a motivação de nosso coração ao orarmos, para que o Espírito Santo interceda por nós ao Pai, de variadas formas, mas até mesmo com gemidos inexprimíveis, o que certamente não se fará numa oração rápida.

A Bíblia nos mostra alguns exemplos de orações que foram atendidas justamente porque quem orava se demorou na presença de Deus. Assim a história de Ana, mulher de Alcana, que por ter se demorado na presença do SENHOR chamou a atenção do Sacerdote que a abençoou, vindo Ana, posteriormente, ser atendida por Deus que lhe deu um filho, aliás, lhe deu sete filhos (I Sm 1:9-20).

Temos o exemplo daqueles que, por estarem orando, ou seja, durante a oração, Deus os atendeu ou fez algo milagroso naquele momento. Assim Jô teve a sorte mudada no momento em que orava pelos seus amigos (Jô 42:10) e Daniel recebeu a visita do Anjo do Senhor enquanto orava (Dn 9:20-23). Se estes homens tivessem levado suas aspirações a Deus no modo “relâmpago” não teriam vivido as experiências que viveram e talvez nem tivessem sido atendidos.

Em Lc 9:29 vemos que a aparência do rosto de Jesus se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura justamente no momento em que Ele estava orando. Também o sobrenatural acontecimento de suar sangue ocorreu a Jesus quando Ele orava (Lc 22:44). Paulo, quando recebeu de Deus o comissionamento para pregar aos gentios, experimentou um êxtase e teve uma visão bem quando orava (At 22:17). O próprio batismo no Espírito Santo e o primeiro avivamento ocorreram aos que se achavam orando (At 2).

Em Mt 26:40 o próprio Jesus cobrou de seus discípulos um tempo de oração igual ou maior a uma hora. Jesus não cobrou que orassem de mãos dadas, que orassem no templo, que orassem por algo específico, que orassem em concordância ou que orassem com eloqüência, mas que orassem no mínimo uma hora! Isto nos indica algo muito importante: que qualidade de oração pode sim estar relacionada a tempo de oração.

Lembro-me particularmente do testemunho de uma missionária chilena que há alguns anos orou trinta dias, várias horas por dia, por um menino todo deformado de nascença e que Deus atendeu sua oração moldando o corpo do menino instantaneamente nos braços desta mulher. Ela conta que em alguns momentos a fadiga impedia que ela orasse algo “útil” ao Senhor e que então ela, num ato extremo, chegava a ler para o Senhor o que ela encontrava no jornal, mas não deixa a presença de Deus em oração sem ter dado cabo das horas a que havia se comprometido.

Por isso tudo considero que a quantidade de oração precisa ser resgatada como condição para uma qualidade de oração. Para usar um exemplo usado pelo autor de Hebreus, devemos ser como o maratonista que corre sua carreira. Devemos fazer nossas maratonas da oração, onde ao iniciarmos a orar já sabemos que permaneceremos um tempo na presença de Deus e que dali por diante muito poderá acontecer conosco, que Deus irá falar-nos de muitas maneiras e que não abandonaremos a corrida antes do fim.
Como o maratonista, poderemos sentir a fadiga e o tempo sem dúvida passará, para nós, mais devagar do que para os que não estiverem na maratona, no entanto, só os que correm a carreira é que cruzam a linha de chegada dos vencedores e sobem ao pódio para receber, do Rei, a coroa da vitória.