quarta-feira, novembro 15, 2023

DISCIPULADO PARA O CASAMENTO

 

(mensagem enviada aos homens do grupo pequeno)

Estava estudando sobre casamento a partir da Bíblia e me dei conta da direção que tenho condições de apontar para vocês e para a casa de cada qual, caso queiram falar e se abrir sobre esse tema.

Entendo que cada um pode ter a própria ideia quanto a como ser ajudado em relação ao casamento, mas de meu lado também parto de uma experiência de campo, não apenas de um casamento que se estabeleceu, mas também de ministrar outros casais, tanto aqueles que continuaram juntos, como os que se separaram, porque, afinal, você pode levar alguém à fonte, mas não pode forçá-lo a beber água.

Pois bem, a direção que posso apontar é aquela na qual o casamento não é um fim em si mesmo. Isso significa que considero que o mais importante não é salvar o casamento, mas o que advém dele.

Antes de considerarmos no que advém do casamento, devemos observar o quanto esse tema é central nas Escrituras. A Bíblia começa num casamento em Genesis (Primeiro Adão com Eva) e termina num casamento no Apocalipse (Último Adão com a Igreja). O objetivo da arca foi livrar do grande dilúvio o fruto de um casamento (Noé) e o povo de Deus tem seu início na ordem para que um homem casado (Abraão) levasse sua mulher estéril à uma terra distante para ali ser o pai de uma grande nação. Cada uma das gerações seguintes (Isaque, Jacó e seus doze filhos) teve aspectos do seu casamento mencionados na Bíblia, sendo que o mesmo ocorreu com Moisés, com juízes como Sansão e com reis como Davi. Embora Jesus não tenha sido concebido a partir de um casamento no sentido estrito, mas a partir de uma virgem coberta pela sombra do Altíssimo, o Messias cresceu em estatura e graça no seio de um casamento (José e Maria) e ali foi instruído na Torá, nos costumes judaicos e na profissão da carpintaria.

Dito isso, o que é que advém de um casamento segundo o modelo de Deus? Obviamente que os frutos de um casamento são os filhos, pois Deus ordenou ao primeiro casal que frutificasse, multiplicasse, enchesse a terra, a sujeitasse e a dominasse. Porém, não é qualquer filho que vai sujeitar e dominar a terra, mas aqueles gerados, criados e instruídos no seio de uma família.

Filhos fora da família eram considerados bastardos e como tais eram considerados como não tendo instrução/disciplina (Hb 12:8), pois a instrução é dada pelo pai e aqueles que não receberam instrução de pai tem enormes dificuldades de receber a instrução de Deus, sendo essa a razão pela qual é negado aos bastardos o acesso à Congregação do Eterno (Dt 23:2). Obviamente que para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis (Mt 19:26) e é ele que nos atrai com cordas de amor e nos dá a sua paternidade. Dito de outro modo, a bastardia bíblica é mais que uma pessoa sem o pai biológico no registro. Antes, é uma condição espiritual mesmo daqueles que tiveram pais presentes na casa, mas ausentes de suas vidas.

Portanto, a partir desse entendimento, e voltando ao tema do casamento, a união do casal não é um fim em si mesmo e sim um meio para gerar filhos instruídos quanto aos valores do Reino de Deus.

Aqui é preciso levar em conta que Deus não está interessado na vida biológica em si mesma, pois, se fosse assim, Deus teria feito o corpo natural do homem dotado de eternidade. Não é o que ocorre, até porque “preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos” (Sl 116:15), ou seja, Deus nos escolhe para vir ao mundo, nos separa e nos designa à uma missão (Jr 1:5), depois tece os nossos órgãos no ventre de nossa mãe para nos fazer nascer nesse mundo (Sl 139:13) e, logo em seguida, recolhe a nossa vida na morte. Aliás, para Deus o tempo da nossa vida é como um sopro, como a sombra que passa (Sl 144:4), portanto, ele nos predestina, nos dá vida e logo a seguir nos recolhe na morte.

Para nós isso não faz sentido, mas para ele, “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24). Por isso, quando Deus nos cria ele não está diretamente interessado em nosso “tabernáculo terrestre” (corpo natural), mas sim em nosso “tabernáculo celeste”, que é o nosso corpo espiritual. Esse corpo espiritual é eterno e não multiplicável, pois quando ressuscitarmos não casaremos e nem nos daremos em casamento, mas seremos como os anjos (Mt 22:30). Isso nos leva a concluir que Deus gera um ser humano no ventre de sua mãe para que, na verdade, esse ser receba uma alma que habitará eternamente um corpo espiritual (espírito), fazendo parte da família de Deus.

Dito de outra forma, Deus está criando a sua família e, para isso, ele nos dá uma fase terrestre onde vivenciamos o que é sombra das coisas futuras. Assim como um ser humano vive uma fase uterina antes de nascer, crescer e se desenvolver, a nossa alma imortal também vive uma fase terrestre antes da vida eterna.

Concluindo, nem o casamento e nem a família são fins em si mesmos, mas meios de Deus gerar para si uma família eterna. Nesse contexto, reparem como fica sem sentido dizer coisas como:

·        “eu não estou sendo feliz nesse relacionamento”;

·        “eu gostaria de uma mulher que fizesse isso e aquilo pra mim”;

·        “eu só quero ser feliz”;

·        “eu não aguento mais que ela faça isso ou aquilo”

Tais pensamentos não tem sentido porque são centrados no “eu”, quando o objetivo do casamento não é o “eu” e sim Deus. O casamento tem por objetivo o que Deus quer e não a satisfação do ser humano. Deus quer almas sendo geradas e instruídas na Palavra do Reino e, para isso, ele não nos obriga a casar e nem escolhe a mulher de ninguém, mas conta com a palavra de homem (sim, “sim” e não, “não) para fazer da família um ambiente missional.

Um homem que “se deu bem na vida” é aquele cujos filhos são firmados na Rocha e constituíram famílias de filhos firmados na Rocha. Filhos desviados do Caminho são a prova do fracasso do homem como líder familiar, embora o Senhor nos perdoe os fracassos, nos mantenha no seu plano pela sua graça e nos dê esperança de ver os filhos rendidos ao senhor, retirando o nosso opróbrio (desonra).

Agora, olhe para o seu casamento ou para o casamento que você quer ter (no caso dos viúvos, divorciados ou solteiros) e se pergunte se você está disposto a se submeter a esses valores na formação do casamento e da família. Se a sua resposta é sim, estou disposto a te ajudar a alinhar teus passos para que o teu casamento seja exatamente isso, ou seja, uma relação marital da qual emana uma família missional. Se, contudo, você quer menos que isso, ou seja, se você só não quer ficar sozinho e quer alguém que corresponda às suas expectativas, não pretendo de iludir, pois não tenho por que trabalhar por esse objetivo puramente humano e não divino, até porque cada qual pode dar conta disso sozinho. Trabalhamos para o Senhor e o que deve dirigir nossos passos é o objetivo do Reino, ou seja, o que nos interessa é que os seus filhos tenham um destino em Deus, diferente do destino que seus pais tiveram segundo o mundo até aqui.

E o caso dos viúvos e divorciados, onde não há filhos ou onde há filhos “meus, teus e nossos”, como agir? No caso daqueles, os filhos do cônjuge devem ser como os próprios filhos e vice-versa. No casamento que, por qualquer razão, não tenha filhos, o alvo há de ser o estabelecimento do testemunho como casal, como fonte de inspiração para os casais mais jovens da igreja local. Isso demonstra que o evangelho é baseado no que Deus quer para si através do homem, que é seu instrumento, e não no que o homem quer para si tendo Deus por instrumento.

Medite nisso e agende o seu tempo para falarmos sobre o seu casamento, se é que tens necessidade de compartilhar teus desafios nessa área.

segunda-feira, novembro 13, 2023

POSSO EXIGIR DESCULPAS COMO CONDIÇÃO PARA PERDOAR?

O cristão deveria condicionar o perdão ao pedido de desculpas daquele que lhe ofendeu?

De um lado, Jesus nos manda perdoar como somos perdoados e, como se sabe, ninguém é perdoado sem demonstrar a Deus a sua culpa. 

Confessar os pecados é uma forma de demostrar a culpa, assim como pedir o perdão ao SENHOR ou aceitar o seu senhorio e a sua salvação, porque ao aceitar alguém que mande em mim eu admito o caminho superior desse governante e ao aceitar um salvador eu aceito o fato de que estou perdido. 

A expiação se consumou num dado dia e hora, há mais de dois mil anos, quando estava encarnado aquele que se fez expiação. Já o perdão se consuma quando está encarnado aquele que é perdoado, quer ele tenha vivido antes ou depois da expiação. Davi e o ladrão da cruz, assim como eu e você, somos beneficiados com a expiação ocorrida na cruz, porém, cada qual é perdoado no momento em que demonstra ao SENHOR a sua culpa. 

Por isso, se a demonstração da culpa é uma condição para eu ser perdoado e se eu devo perdoar como sou perdoado, então aquele que me ofendeu deveria demonstrar sua culpa para que eu também o perdoe. Isso não muda o fato de que devo falar bem dele e fazer-lhe o bem, pois até aos inimigos devo amar, mas o perdão estaria condicionado à demostração de culpa. 

Isso seria assim, não fosse o fato de que eu mesmo sou pecador. 

É que eu perdoo porque fui perdoado, enquanto Deus perdoa por uma razão bem diferente: porque Ele é bom. 

Quando eu demonstro a minha culpa eu admito a inferioridade do meu padrão moral em relação a Deus. Isso é imprescindível para legitimar o seu governo sobre mim e a santidade da sua oferta para expiar a minha culpa. Porém, quando alguém demonstra a sua culpa por ter me ofendido, isso não significa que o meu padrão moral seja superior ao dessa pessoa. Ao contrário, o padrão moral do ofendido e do ofensor são igualmente decaídos. 

Dito de outro modo, Deus não precisava me perdoar, mas perdoou, já eu preciso perdoar, pois mesmo não merecendo o perdão eu o recebi, de modo que fico devedor, a Deus, desse mesmo perdão aos que me ofenderam. 

Se esta lógica espiritual não bastasse, ainda assim teríamos as palavras de Jesus, que disse, "quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas" (Marcos‬ ‭11:25‬).

quinta-feira, novembro 09, 2023

HAVIA TRÊS ÁRVORES NO JARDIM

YHWH não negou a Adão e Eva o conhecimento do bem e do mal, apenas proibiu que eles se alimentassem desse conhecimento.

O jardim do Éden tinha três tipos de árvore: 

1) a Árvore da Vida, que estava no meio do jardim, em local privilegiado e cujo fruto deveria ser comido livremente pelo homem (Gn 2:16);

2) a árvore do conhecimento do bem e do mal, em local não definido e cujo fruto o homem não deveria comer, sob pena de morrer naquele "dia";

3) as muitas árvores agradáveis à vista e boas para alimento (Gn 2:9), que certamente estavam distribuídas pelo jardim e das quais o homem deveria comer livremente. 

Adão passou a ser alma vivente quando Deus soprou o fôlego da vida num corpo de terra. O que vemos aí é um elemento, somado ao um segundo elemento, transformando-se num terceiro. O Livro da Criação (Rm 1:20) nos descreve isso como "química", a transformação da matéria. Uma das reações químicas mais básicas é aquela pela qual se forma a água, onde dois átomos de hidrogênio se combinam a um átomo de oxigênio. 

Observem se não é mais ou menos isso que Gênesis nos descreve, pois YHWH pega o barro, sopra sobre ele o seu fôlego de vida e disso advém uma alma vivente humana. E o mais interessante é que assim como na eletrólise da água é possível separar o hidrogênio do oxigênio, a Palavra de Deus, que é viva e eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, penetra até ao ponto de dividir a alma do espírito (Hb 4:12).

Quando olhamos para a água não vemos oxigênio ou hidrogênio, que são gases, mas apenas o corpo formado pela junção desses dois elementos. Do mesmo modo, quando olhamos para o ser humano não vemos o barro e o fôlego de vida, mas apenas o conjunto formado por esses dois elementos. 

Embora à primeira vista não possamos distinguir os reagentes humanos (terra e espírito) do seu produto (alma), sabemos que são três elementos que devem ser considerados tanto em conjunto como individualmente. Tanto é  assim que o mesmo Deus da paz nos santifica em tudo, no espírito, alma e corpo (1 Ts 5:23). 

Voltando às árvores plantadas por Deus no Éden, vemos que são três tipos, o que provavelmente correlaciona um tipo de fruto para cada elemento humano. 

Para o corpo temos o fruto das muitas árvores agradáveis à vista e boas para alimento. Para o espírito temos a Árvore da Vida e para a alma o fruto do conhecimento do bem e do mal.

Então, se o conhecimento do bem e do mal é justamente para a alma, por que o homem não podia se alimentar do fruto dessa árvore? 

Observe que Deus disse que o homem deveria se alimentar livremente de todas as árvores e aí ele inclui a Árvore da Vida. Pressupõe-se, então, que nalgum momento o homem comeria do fruto da Árvore da Vida e aí ocorreria com ele o que está descrito em Genesis 3:22‬, ou seja, passaria a viver eternamente. Uma vez eterno, o homem jamais poderia morrer e só então ele poderia passar a ser conhecedor do bem e do mal. É preciso a incorruptibilidade da vida eterna para enfrentar o mal, por isso, a proibição não era propriamente para que o homem permanecesse na ignorância, mas para que não obtivesse o conhecimento do bem e do mal ANTES de ter buscado vida eterna. 

YHWH diz que ao comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal o homem se tornou "como um de nós", ou seja, ele se tornou como as Pessoas da Trindade no tocante ao conhecimento, passando a ser "conhecedor do bem e do mal". Se Deus é conhecedor do bem e do mal então esta não é uma condição ruim em si mesma, pois Deus é santo e certamente o fato de conhecer o bem e o mal não compromete essa santidade. Isso nos mostra que o perigo não era conhecer o bem e o mal, mas sim conhecê-lo sem antes estar dotado de Vida Eterna. 

Dito de outro modo, o fruto do conhecimento do bem e do mal poderia ser um veneno, sendo que o fruto da Árvore da Vida seria o seu antídoto.

Para reforçar esta ideia, observe que o texto bíblico inclui a palavra "dia" quando fala do resultado da desobediência. A escritura diz que a morte decorrente da ingestão do fruto do conhecimento do bem e do mal viria no "dia" em que esse fruto fosse comido. 

Ora, a palavra dia pressupõe o espaço-tempo dimensionado, conceito este que se opõe a eternidade, onde as dimensões do espaço-tempo não se opõe ao agir de Deus, pois YHWH mede os céus com a palma da mão, sendo que um dia lhe é como mil anos e mil anos, como um dia. 

O que se demonstra aí é que o homem, sendo a semelhança do Criador, não foi criado para ficar circunscrito a uma unidade infinitesimal do universo, como ocorre hoje conosco, mas foi criado para a eternidade, para interagir com a criação onde quer que seja, sem limitação de espaço-tempo. Para tanto, o homem deveria escolher comer do fruto da vida eterna; caso em que, sendo eterno como é YHWH, ele saberia todas as coisas, tendo a mente de Cristo e conhecendo perfeitamente o bem e o mal. Porém, em vez disso, o homem optou por esse conhecimento sem antes viver eternamente. O momento em que o homem morre no espírito é aquele em que a sua desobediência à Deus se inicia, não podendo ela superar o tempo de 129 anos (Gn 6:3).

Precisamos considerar que quando Deus cria um ser inferior aos anjos à sua imagem e semelhança, os anjos já haviam se dividido, e um terço deles já estava condenado à perdição eterna, aprisionados neste mesmo planeta onde Deus planta o homem. Por isso Deus, quando cria o homem na ignorância, sem conhecimento do bem e do mal, coloca diante do homem a opção de obedecer e viver eternamente - passando a ser como Ele, conhecedor do bem e do mal - ou desobedecer, passando a um saber desprovido de moral, ou seja, bem e mal sem antes exercitar certo e errado. 

A mensagem que fica é que o bem é pautado no que é certo e o mal no que é errado, todavia, o certo será aquilo que Deus assim considere, e errado aquilo que Deus disser que é errado, de modo que só podemos chegar ao conhecimento tanto do bem, como do mal, pela obediência a Deus e, ainda, só podemos lhe obedecer se tivermos íntima comunhão com Ele, o que requer que comamos de sua carne e bebamos do seu sangue, um símbolo neotestamentário que, no velho testamento, tem o seu correspondente no ato de se alimentar da Árvore da Vida. 

Fomos feitos à imagem e semelhança do Criador e só na íntima comunhão com Ele poderemos obedecê-lo. Adão desobedeceu ao comer do fruto do conhecimento do bem e do mal, porém, já havia desobedecido antes, quando deixou de comer da Árvore da Vida e também quando deixou de lavrar o jardim, retirando dele a árvore cujo fruto não podia ser comido. 

Temos dentro de nós, hoje, um jardim regado pelas águas do Espírito, o qual devemos lavrar diariamente retirando dele todos os cardos espinhos e nos esforçando para arrancar, até pela raiz, a árvore do conhecimento do bem e do mal, tudo isso sem nos esquecer de nos sentarmos à sombra da grande Árvore da Vida, buscando cura com as suas folhas e nos alimentando de seu fruto.