Algumas pessoas se perguntam
porque Jesus de Nazaré, o Cristo, não se casou. Elas deveriam se perguntar, na
verdade, porque Ele não se casou ainda, ou seja, considerando que Cristo ressuscitou,
que Ele vive e que voltará, Ele ainda poderá se casar!
É exatamente isto que diz o livro
do Apocalipse, ao mencionar quanto à volta de Cristo que “vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E
foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o
linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19:7,8).
Diz a Bíblia, portanto, que
Cristo é noivo e tem contratado – como na cultura judaica da época de sua
encarnação – um casamento com sua noiva. E quem é esta Noiva de Cristo? A
resposta requer uma breve reflexão a partir de várias passagens das Escrituras.
Certa vez um saduceu, que não cria em ressureição, perguntou o seguinte a Jesus:
– “Mestre, Moisés nos escreveu
que, se morresse o irmão de alguém, e deixasse a mulher e não deixasse filhos,
seu irmão deveria tomar a mulher dele e suscitar descendência a seu irmão. Ora,
havia sete irmãos, e o primeiro tomou a mulher, e morreu sem deixar descendência;
e o segundo também a tomou e morreu, e nem este deixou descendência; e o
terceiro da mesma maneira. E tomaram-na os sete, sem, contudo, terem deixado
descendência. Finalmente, depois de todos, morreu também a mulher. Na
ressurreição, pois, quando ressuscitarem, de qual destes será a mulher? Porque
os sete a tiveram por mulher” (Mc 12:19-23).
O saduceu se referia à Lei do
Levirato, comunicada por Moisés ao povo hebreu 1500 anos antes:
“Quando irmãos morarem juntos, e
um deles morrer, e não tiver filho, então a mulher do falecido não se casará
com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por
mulher, e fará a obrigação de cunhado para com ela. E o primogênito que ela lhe
der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o seu nome não se
apague em Israel” (Dt 25:5,6).
O saduceu, na verdade, não tinha
dúvida alguma e não vinha em busca de conhecimento; ele apenas criara um dilema
para que Cristo admitisse que não havia ressureição. Cristo lhe respondeu
assim:
– “Errais vós em razão de não
saberdes as Escrituras nem o poder de Deus? Porquanto, quando ressuscitarem
dentre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento, mas serão como os
anjos que estão nos céus” (Mc 12:24-25).
Portanto, Jesus corrigiu o
saduceu dizendo claramente que haveria ressureição, mas indicou que a condição de
cada um de nós após a ressureição não seria mesma de antes, ou seja, ressuscitamos,
mas não para sermos os mesmos. Cristo disse que a ressureição do corpo haveria
para nos tornar seres semelhantes a anjos, ou seja, que não se casam (aliança
com um ser do sexo oposto) e nem se dão em casamento (ter relações sexuais).
Isto na verdade é um tanto óbvio,
pois seres perpétuos não tem necessidade de perpetuar sua espécie, logo, não há
porque o nosso “corpo celeste” (I Co 15:40) ser dotado da capacidade de
reproduzir. Jesus nos dá uma noção desta realidade ao ressuscitar, pois a
narrativa dos fatos posteriores a ressureição que consta dos Evangelhos
demonstra que pessoas próximas a Jesus não o reconheceram logo após a ressureição
(Jo 21:4), a ponto de que Pedro “voltou-se
para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus” (Jo 20:14).
Muito embora o corpo ressurreto fosse
diferente do original, ele de alguma forma era o mesmo, pois Jesus chegou a
mostrar ao apóstolo Tomé e aos demais as feridas dos cravos em suas mãos (Jo
25:27), todavia, era um corpo cuja face certamente diferia da anterior (já que
várias vezes não foi reconhecido de imediato) e que tinha faculdades
sobrenaturais que desconhecemos, como o poder de ir e vir transcendendo barreiras
de tempo e espaço (Jo 25:26, 21:4).
Portanto, o Jesus que se casará
com sua Noiva não é o Jesus esvaziado de si mesmo, em forma de servo (humana), que
se faz semelhante aos homens (Fp 2:7-8) e que fora o Jesus pré-ressureição. Também
não será o Jesus com mera aparência angelical, visto nas aparições terrenas
após a ressureição, mas será o Jesus Celestial, o Rei dos reis e Senhor dos
senhores (I Tm 6:15, Ap 19:16) que foi entronizado após subir ao Terceiro Céu (I
Pe 3:22), cuja “cabeça e cabelos são brancos
como lã branca, como a neve, e os olhos como chama de fogo; cujos pés são semelhantes
a latão reluzente, como se refinados numa fornalha, e a voz é como a voz de
muitas águas” (Ap 1:14,15) e que aguarda o momento de voltar triunfante a
Terra (I Ts 5:23) para tomar sua Noiva em casamento e instituir com ela um
reino de mil anos sobre a Terra (Ap 20:6).
Logo, quando as Escrituras mencionam
as bodas de Jesus, está se referindo à parte imaterial deste casamento, ou
seja, a aliança com uma “ajudadora idônea”
(Gn 2:20) para a construção de um projeto de vida comum. Em razão de Cristo ter
glorificado o seu corpo (aparência angelical), não haverá neste matrimônio o “dar-se em casamento” (relações com vistas
à perpetuação da espécie) e por isso mesmo a Noiva não é uma única pessoa, mas
um Ser Coletivo a que denominamos “Igreja”.
É por isso que as Escrituras apontam
para a conjunto das pessoas que recebeu o senhorio de Cristo como tendo algo em
comum, uma assembleia (eclesia ou
igreja). Esta assembleia foi mencionada como a Noiva de Cristo por João Batista
(Jo 3:29), pelo próprio Jesus (Mc 2:19) e também pelo apóstolo João em sua
visão na ilha de Patmos (Ap 19:7) e ao final é tomada pelo lugar onde viverá,
ou seja, a Nova Jerusalém, razão pela qual João vislumbrou em sua visão “a santa cidade, a nova Jerusalém, que de
Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido”
(Ap 21:2).
É certo, portanto, que Jesus Cristo
voltará para desposar sua Igreja, honrando-a perante todos os demais habitantes
da Terra e estabelecendo com ela um reino terreno milenial. Enquanto isso a Noiva
se prepara para o casamento, mas não sendo vestida por suas ajudantes, como de
costume, mas ataviando-se a si mesma, pois “foi-lhe
dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino
são as justiças dos santos” (Ap 19:8).
Isto significa que a Noiva de
Cristo (a Igreja) está, no tempo presente, preparando-se para este casamento e
tal preparação consiste em manifestar na Terra a Justiça do Céu. Quanto mais a
Igreja manifesta a Justiça do Reino, mas bela e enfeitada fica aos olhos de seu
Esposo, o Rei Jesus.
E que Justiça é essa? Bem, o tema
sobre a Justiça do Reino de Deus é muito amplo, mas resumidamente significa manifestar
em atitudes o que é certo segundo os valores do Céu, valores estes que deveriam
estar governando a Terra, se nela não houvesse um usurpador, que é o inimigo de
Deus (Lúcifer). Esta Justiça já foi sombreada, foi delineada previamente na Lei
de Moisés, mas hoje, após o advento de Cristo, ela não é mais uma “justiça que vem da lei, mas a que vem pela
fé em Cristo” (Fp 3:9) e esta “lei se
cumpre numa só palavra: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5:14).
Um último aspecto que precisa ser
referido sobre a Noiva de Cristo é que assim como há sobre a Terra uma Noiva
verdadeira, há uma que é falsa e que quer se fazer como verdadeira. Trata-se da
“mulher assentada sobre uma besta de cor
de escarlata, que estava cheia de nomes de blasfêmia, e tinha sete cabeças e
dez chifres”, ela “estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com
ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio
das abominações e da imundícia da sua fornicação e na sua testa estava escrito
o nome: Mistério, a grande babilônia, a mãe das prostituições e abominações da
terra” (Ap 17:3-5). Esta falsa noiva é, sem dúvida, a Religião ou a religiosidade
terrena.
Assim como há Terra um movimento legítimo
de trazer do Céu a vontade de Deus para a nós governar, há, também, um
movimento que externamente em muito se parece com o primeiro, mas que consiste
em soberbamente levar a vontade da Terra para ser feita no Céu. Este último
movimento, há muito inaugurado por Ninrode na antiga Babel, avançou ao longo
dos séculos, persiste até hoje é só será derrotado no final, como narrado no
capítulo 19 do livro do Apocalipse.
Esta falsa religião é marcada
pela iconoclastia (veneração de ídolos e personalidades), pela troca de bênçãos
por falsa adoração – como Lúcifer propôs a Jesus no deserto (Mt 4:9) – por um
acentuado “cambismo” (relação de comércio entre a Terra e o Céu) e pelo
assassinato de toda e qualquer verdadeira voz profética que se levante para denunciar
esta prostituição espiritual, como fez a rainha Jezabel (I Rs 19:1).
Sempre que alguém se levanta para
denunciar que (falsos) líderes cristãos estão ensinando ao povo os “dez passos
para ser abençoado”, ou coisa semelhante que implique numa visão de troca de
benção por devoção, tais líderes condenam à morte a reputação desta voz
profética, tendo-a por rebelde.
Porém, é certo que assim como Jeú
veio cavalgando contra Jezabel e a atropelou para que fosse comida pelos cães (2
Rs 9:33), no fim virá o Rei Jesus cavalgando contra esta falsa rainha que a si
mesmo se chama “igreja” (Ap 19:11), e a derrotará com a espada que sai de sua boca
(Palavra de Deus), “a fim de que aves se
fartaram de suas carnes” (Ap 19:21).
Assim é que há sobre a Terra hoje
o falso e o verdadeiro, o Trigo e o Joio, a Noiva e a Grande Prostituta, a Nova
Jerusalém e a Grande Babilônia, e só a intimidade com Deus na pessoa de seu
Espírito Santo nos livrará de errar o alvo e seguir o que é falso. Que
possamos, dia a dia, amar verdadeiramente ao próximo como a si mesmo, com toda
a renúncia que isto implica, para que implantemos na Terra a Justiça do Céu e
assim nos preparemos para encontrar o Noivo em sua vinda, com nossas lâmpadas
cheias de azeite (Mt 25:4).
Boa Sorte!