sexta-feira, janeiro 20, 2017

PORQUE JESUS NÃO CASOU?




Algumas pessoas se perguntam porque Jesus de Nazaré, o Cristo, não se casou. Elas deveriam se perguntar, na verdade, porque Ele não se casou ainda, ou seja, considerando que Cristo ressuscitou, que Ele vive e que voltará, Ele ainda poderá se casar!

É exatamente isto que diz o livro do Apocalipse, ao mencionar quanto à volta de Cristo que “vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19:7,8).

Diz a Bíblia, portanto, que Cristo é noivo e tem contratado – como na cultura judaica da época de sua encarnação – um casamento com sua noiva. E quem é esta Noiva de Cristo? A resposta requer uma breve reflexão a partir de várias passagens das Escrituras. Certa vez um saduceu, que não cria em ressureição, perguntou o seguinte a Jesus:

– “Mestre, Moisés nos escreveu que, se morresse o irmão de alguém, e deixasse a mulher e não deixasse filhos, seu irmão deveria tomar a mulher dele e suscitar descendência a seu irmão. Ora, havia sete irmãos, e o primeiro tomou a mulher, e morreu sem deixar descendência; e o segundo também a tomou e morreu, e nem este deixou descendência; e o terceiro da mesma maneira. E tomaram-na os sete, sem, contudo, terem deixado descendência. Finalmente, depois de todos, morreu também a mulher. Na ressurreição, pois, quando ressuscitarem, de qual destes será a mulher? Porque os sete a tiveram por mulher” (Mc 12:19-23).

O saduceu se referia à Lei do Levirato, comunicada por Moisés ao povo hebreu 1500 anos antes:
“Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filho, então a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a obrigação de cunhado para com ela. E o primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o seu nome não se apague em Israel” (Dt 25:5,6).

O saduceu, na verdade, não tinha dúvida alguma e não vinha em busca de conhecimento; ele apenas criara um dilema para que Cristo admitisse que não havia ressureição. Cristo lhe respondeu assim:

– “Errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus? Porquanto, quando ressuscitarem dentre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento, mas serão como os anjos que estão nos céus” (Mc 12:24-25).

Portanto, Jesus corrigiu o saduceu dizendo claramente que haveria ressureição, mas indicou que a condição de cada um de nós após a ressureição não seria mesma de antes, ou seja, ressuscitamos, mas não para sermos os mesmos. Cristo disse que a ressureição do corpo haveria para nos tornar seres semelhantes a anjos, ou seja, que não se casam (aliança com um ser do sexo oposto) e nem se dão em casamento (ter relações sexuais).

Isto na verdade é um tanto óbvio, pois seres perpétuos não tem necessidade de perpetuar sua espécie, logo, não há porque o nosso “corpo celeste” (I Co 15:40) ser dotado da capacidade de reproduzir. Jesus nos dá uma noção desta realidade ao ressuscitar, pois a narrativa dos fatos posteriores a ressureição que consta dos Evangelhos demonstra que pessoas próximas a Jesus não o reconheceram logo após a ressureição (Jo 21:4), a ponto de que Pedro “voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus” (Jo 20:14).

Muito embora o corpo ressurreto fosse diferente do original, ele de alguma forma era o mesmo, pois Jesus chegou a mostrar ao apóstolo Tomé e aos demais as feridas dos cravos em suas mãos (Jo 25:27), todavia, era um corpo cuja face certamente diferia da anterior (já que várias vezes não foi reconhecido de imediato) e que tinha faculdades sobrenaturais que desconhecemos, como o poder de ir e vir transcendendo barreiras de tempo e espaço (Jo 25:26, 21:4).

Portanto, o Jesus que se casará com sua Noiva não é o Jesus esvaziado de si mesmo, em forma de servo (humana), que se faz semelhante aos homens (Fp 2:7-8) e que fora o Jesus pré-ressureição. Também não será o Jesus com mera aparência angelical, visto nas aparições terrenas após a ressureição, mas será o Jesus Celestial, o Rei dos reis e Senhor dos senhores (I Tm 6:15, Ap 19:16) que foi entronizado após subir ao Terceiro Céu (I Pe 3:22), cuja “cabeça e cabelos são brancos como lã branca, como a neve, e os olhos como chama de fogo; cujos pés são semelhantes a latão reluzente, como se refinados numa fornalha, e a voz é como a voz de muitas águas” (Ap 1:14,15) e que aguarda o momento de voltar triunfante a Terra (I Ts 5:23) para tomar sua Noiva em casamento e instituir com ela um reino de mil anos sobre a Terra (Ap 20:6).

Logo, quando as Escrituras mencionam as bodas de Jesus, está se referindo à parte imaterial deste casamento, ou seja, a aliança com uma “ajudadora idônea” (Gn 2:20) para a construção de um projeto de vida comum. Em razão de Cristo ter glorificado o seu corpo (aparência angelical), não haverá neste matrimônio o “dar-se em casamento” (relações com vistas à perpetuação da espécie) e por isso mesmo a Noiva não é uma única pessoa, mas um Ser Coletivo a que denominamos “Igreja”.

É por isso que as Escrituras apontam para a conjunto das pessoas que recebeu o senhorio de Cristo como tendo algo em comum, uma assembleia (eclesia ou igreja). Esta assembleia foi mencionada como a Noiva de Cristo por João Batista (Jo 3:29), pelo próprio Jesus (Mc 2:19) e também pelo apóstolo João em sua visão na ilha de Patmos (Ap 19:7) e ao final é tomada pelo lugar onde viverá, ou seja, a Nova Jerusalém, razão pela qual João vislumbrou em sua visão “a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap 21:2).

É certo, portanto, que Jesus Cristo voltará para desposar sua Igreja, honrando-a perante todos os demais habitantes da Terra e estabelecendo com ela um reino terreno milenial. Enquanto isso a Noiva se prepara para o casamento, mas não sendo vestida por suas ajudantes, como de costume, mas ataviando-se a si mesma, pois “foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19:8).

Isto significa que a Noiva de Cristo (a Igreja) está, no tempo presente, preparando-se para este casamento e tal preparação consiste em manifestar na Terra a Justiça do Céu. Quanto mais a Igreja manifesta a Justiça do Reino, mas bela e enfeitada fica aos olhos de seu Esposo, o Rei Jesus.

E que Justiça é essa? Bem, o tema sobre a Justiça do Reino de Deus é muito amplo, mas resumidamente significa manifestar em atitudes o que é certo segundo os valores do Céu, valores estes que deveriam estar governando a Terra, se nela não houvesse um usurpador, que é o inimigo de Deus (Lúcifer). Esta Justiça já foi sombreada, foi delineada previamente na Lei de Moisés, mas hoje, após o advento de Cristo, ela não é mais uma “justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo” (Fp 3:9) e esta “lei se cumpre numa só palavra: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5:14).

Um último aspecto que precisa ser referido sobre a Noiva de Cristo é que assim como há sobre a Terra uma Noiva verdadeira, há uma que é falsa e que quer se fazer como verdadeira. Trata-se da “mulher assentada sobre uma besta de cor de escarlata, que estava cheia de nomes de blasfêmia, e tinha sete cabeças e dez chifres”, ela “estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua fornicação e na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra” (Ap 17:3-5). Esta falsa noiva é, sem dúvida, a Religião ou a religiosidade terrena.  

Assim como há Terra um movimento legítimo de trazer do Céu a vontade de Deus para a nós governar, há, também, um movimento que externamente em muito se parece com o primeiro, mas que consiste em soberbamente levar a vontade da Terra para ser feita no Céu. Este último movimento, há muito inaugurado por Ninrode na antiga Babel, avançou ao longo dos séculos, persiste até hoje é só será derrotado no final, como narrado no capítulo 19 do livro do Apocalipse.

Esta falsa religião é marcada pela iconoclastia (veneração de ídolos e personalidades), pela troca de bênçãos por falsa adoração – como Lúcifer propôs a Jesus no deserto (Mt 4:9) – por um acentuado “cambismo” (relação de comércio entre a Terra e o Céu) e pelo assassinato de toda e qualquer verdadeira voz profética que se levante para denunciar esta prostituição espiritual, como fez a rainha Jezabel (I Rs 19:1).

Sempre que alguém se levanta para denunciar que (falsos) líderes cristãos estão ensinando ao povo os “dez passos para ser abençoado”, ou coisa semelhante que implique numa visão de troca de benção por devoção, tais líderes condenam à morte a reputação desta voz profética, tendo-a por rebelde.

Porém, é certo que assim como Jeú veio cavalgando contra Jezabel e a atropelou para que fosse comida pelos cães (2 Rs 9:33), no fim virá o Rei Jesus cavalgando contra esta falsa rainha que a si mesmo se chama “igreja” (Ap 19:11), e a derrotará com a espada que sai de sua boca (Palavra de Deus), “a fim de que aves se fartaram de suas carnes” (Ap 19:21).

Assim é que há sobre a Terra hoje o falso e o verdadeiro, o Trigo e o Joio, a Noiva e a Grande Prostituta, a Nova Jerusalém e a Grande Babilônia, e só a intimidade com Deus na pessoa de seu Espírito Santo nos livrará de errar o alvo e seguir o que é falso. Que possamos, dia a dia, amar verdadeiramente ao próximo como a si mesmo, com toda a renúncia que isto implica, para que implantemos na Terra a Justiça do Céu e assim nos preparemos para encontrar o Noivo em sua vinda, com nossas lâmpadas cheias de azeite (Mt 25:4).  

Boa Sorte!