sexta-feira, janeiro 14, 2022

TRAPO DE IMUNDÍCIA 

O SENHOR nos diz, pelo profeta Isaías (Is 64:5), que Ele sai “ao encontro daquele que com alegria pratica a justiça”, daqueles que se lembram do SENHOR nos teus caminhos, porém, o SENHOR se ira com esses tais, porque estão em pecado.

 

Ora, como pode alguém que pratica a justiça e que se lembra do SENHOR nos seus caminhos estar em pecado? A resposta está no versículo seguinte, onde Isaías diz “todos nós somos como o imundo e todas as nossas justiças são como trapo da imundícia” (Is 64:6). Repare que ele não diz somos imundos, mas somos COMO o imundo, ou seja, ele equipara o homem justo ao imundo, certamente quando este homem apresenta os seus atos de justiça como justificação de si mesmo.

 

A expressão trapo de imundícia indica a veste adicional usada pela mulher para conter seu fluxo menstrual. É uma expressão forte, usada pelo SENHOR para nos provocar nojo. É certo que o SENHOR ama ao que pratica a justiça (Sl 37:28), porém, Ele considera imundo aquele homem ou mulher que, depois de praticar a justiça, apresenta esses atos justos a Deus, ou aos seus semelhantes, como justificação de si mesmo, ou seja, como aquilo que vem redimir seus maus feitos.

 

Diz o SENHOR que “quando o justo se desviar da sua justiça e cometer a iniquidade” ele “morrerá no seu pecado” e “as suas justiças, que tiver praticado, não serão lembradas” (Ez 3:20), ou seja, não temos uma conta corrente no Céu onde cada boa atitude apaga um pecado. No juízo final, se alguém for achado por Deus em si mesmo, o que vai contar é o pecado dessa pessoa e não seus bons feitos. É por isso que Paulo se diz “achado em Cristo”, não tendo uma justiça que vem das boas ações, mas “a justiça que vem de Deus pela fé” (Fp 3:9).

 

Aliás, não é diferente no Novo Testamento, pois o Apóstolo Paulo chama essa conduta ética justificadora do seu praticante de “justiça própria”, testemunhando que ele mesmo fora irrepreensível no tocante a justiça que há na lei (Fp 3:6), porém, essa boa conduta, que deveria ser contada como vantagem, Paulo a considera como skubalon (grego), que significa escória ou resto de excremento. Repare que assim como no Velho Testamento, aqui a justiça própria também recebe um adjetivo que nos leva ao nojo.

 

Porque será que o SENHOR tem nojo quando o indivíduo apresenta a sua conduta como justificativa de seus maus feitos?

 

Creio que a resposta está na expressão trapo de imundícia. Este pano dobrado tem a função de conter o sangue que a mulher libera mensalmente numa fase da vida. A bíblia diz que a “a vida da carne está no sangue” e que o sangue nos é dado para apresentarmos “sobre o altar para fazer expiação pelas nossas almas, porque é o sangue que fará expiação pela alma” (Lv 17:11).

 

Porém, não é qualquer sangue que fará expiação pela alma, mas o sangue que carregue a vida daquele que o entregou, pois a consequência do pecado (o salário) é a morte daquele que peca e não somente uma doação de sangue. Se a pessoa que peca pudesse ser remida com a doação de sangue, Jesus não precisaria ter morrido na cruz, bastaria ter cortado os pulsos sobre o altar do Templo. Deus teria recebido o santo sangue sobre o altar, perdoaria a humanidade e ficaria tudo certo, com Jesus vivo inclusive, e reinando na Terra a partir daí. Não é assim. Jesus morreu no madeiro porque o que interessava ao Céu era a vida que está no sangue e não o sangue no qual está a vida.

 

O sangue de Jesus foi totalmente derramado até que de seu corpo não saiu mais sangue, mas água. Esse sangue contém a “vida da carne” (biológica) de Cristo e por isso este sangue representa a justiça de Cristo, ou seja, o ato único e suficiente praticado por Cristo por todos os homens. A sua entrega à uma morte injusta e dolorosa é o seu ato. Esse é o ato que o SENHOR recebe como expiação pela alma, não de um só homem, mas de todos.

 

 

Cada um dos remidos do SENHOR é parte do Corpo do Cristo (I Co 6:15), sendo a igreja este mesmo Corpo (Cl 1:24), muitas vezes na escritura representado por uma mulher (Ef 5:25), a Noiva, que é chamada a se ataviar com “linho fino, puro e resplandecente, porque o linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19:8), ou seja, fomos ganhos pra Cristo justamente para a prática das boas obras (Ef 2:10). Porém, essas boas obras da Noiva não podem ser apresentadas em lugar da obra do Noivo, pois ainda que a Noiva viva a sangrar todos os meses, este sangue não carrega consigo a vida do Noivo, vida esta que foi derramada, isto sim, de uma só vez, com todo o sangue do Noivo, na cruz do calvário.

 

Tu tens obras? Deixe que Deus olhe tuas obras de dentro para fora a fim de respaldar a fé que te justifica, porém, não me mostre tuas obras como argumento de autoridade, como se delas decorresse o direito ao traje precioso, ao anel no dedo e ao lugar de honra no ajuntamento, pois há alguns que, ainda que vestidos de sórdidos trajes, foram escolhidos pelo Amado para serem ricos pela fé no seu sangue, que os justifica gratuitamente pela sua graça (Tg 23 e Rm 3:25). Certamente que isso é uma loucura, um argumento que escandaliza os certinhos (I Co 1:23), mas como de forma lógica e racional o mundo não conheceu a Deus, aprouve a Ele salvar só os que creem nessa loucura (I Co 1:21).