quinta-feira, junho 30, 2022

NÃO DESFALECER

Muitas vezes ouvimos a expressão "cuidado de Deus". Ela demonstra o quanto ficamos impressionados por um agir (divino) detalhado e perfeito, que é tão diferente de nós... 

É isso que a expressão "cuidado" significa, e não que Deus precise "tomar cuidado" com alguma coisa, como se houvesse a possibilidade de Ele agir de forma descuidada. Não há!

O mais impressionante acerca da perfeição é que o Ser Perfeito não precisa se esforçar para ser perfeito. Ele não precisa tomar nenhum cuidado, não precisa treinar, nem desenvolver habilidade e muito menos pedir ajuda a quem quer que seja. Ele simplesmente faz tudo o que faz de forma perfeita. 

Ele não "consegue" fazer de outra forma. Perfeição é característica inafastável de todos os seus atos. Deus também não precisa treinar para fazer alguma coisa, pois Ele é o saber absoluto. Mesmo que treinasse, não teria como se aprimorar, porque a perfeição com que faz todas as coisas também é absoluta. As suas motivações são tão perfeitas quanto os seus atos e fundadas no mais absoluto amor. 

Acredito que só tem uma coisa que Deus não possa ter em relação à sua perfeição: a alegria da contemplação, que requer alteridade. 

Para que Deus possa contemplar algo perfeito é preciso que mais alguém faça as coisas com perfeição, porém, sendo Deus o Único Perfeito (Hb 7:20), a única maneira disto ocorrer é Ele particionando-se em três pessoas que, não obstante, continuam sendo Único Deus.

Tem outra coisa que Deus também não "consegue" fazer. Deus não consegue crescer, desenvolver e se aprimorar, pois Ele É, o que significa que sua absoluta perfeição sempre foi e sempre será exatamente assim. O único modo de Deus contemplar o seu próprio incremento é particicionando-se e, ademais, encarnando-se num Ser que, tornado imperfeito por Si mesmo, volta-se para o Criador a fim de recuperar sua perfeição original. 

Este é o ser humano, criado em perfeição no primeiro homem, decaído de seu estado para tornar-se totalmente depravado e, depois, absolutamente recuperado pela santificação que obtém no Filho do Homem. 

Portanto, ainda que possamos e devamos ser aperfeiçoados em Cristo, esta não é nossa condição quando nascemos, pois estamos inclinados naturalmente a agir de forma imperfeita. A medida que sofremos as consequências de nossa imperfeição - e desde que tenhamos nos arrependido e nascido de novo - nós passamos à uma jornada de busca pela perfeição.

A perseverança, a insistência, o treino e o aprimoramento vão nos conduzindo a níveis maiores de excelência, porém, ainda assim podemos ter tentativas melhores e piores.

Vou exemplificar com o jejum. Houve uma época em que eu não jejuava e nem pensava nisso. Entendi o valor do jejum e comecei a jejuar. Me aprimorei e entendi que a regularidade no jejum era o mais importante. Passei a exigir de mim mesmo o jejum regular e fui avançando. 

Daí que tem dias que o jejum é ótimo, que é grande a sensação de dever cumprido, que parece que tocamos o céu, porém, mesmo que isso ocorra algumas vezes, sempre aparece um novo episódio onde o jejum é mal feito, onde mais se parece com uma greve de fome feita em meio a muitas atividades.

O motivo de irmos avançando e progredindo, ainda que aos poucos, é que não desistimos, pois sem a resiliência o fracasso não seria ocasional e, sim, permanente. 

Não devemos desistir de semear, pois só colhe aquele que não houver desfalecido (Gálatas 6:9).  

quarta-feira, junho 08, 2022

MARIA, MÃE DE JESUS?


O Anjo disse a Maria: "eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus" (Lc 1:31). Esse termo "conceberás" (sullambano) significa agarrar, reter, ou seja, o papel de Maria seria reter em seu ventre o que nela seria gerado do seguinte modo:

"Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus" (Lc 1:35)

Observe que duas Pessoas da Triunidade Divina são mencionadas para explicar a Maria a geração de Jesus em seu ventre: Espírito Santo, que desceria sobre ela, e o Altíssimo, que compareceria com seu poder para envolve-la com a Sua sombra (ou imagem), de modo que o ente santo que haveria de nascer não seria chamado de filho de José, ou mesmo filho de Maria (como um bastardo), mas, sim, Filho de Deus! 

Isso nos mostra que Jesus desenvolveu-se no ventre de Maria após ter sido gerado pela imagem do Pai que investiu sobre a descida do Espírito Santo, tudo isso dentro de Maria. 

Ora, se Jesus é gerado pelo Pai e pelo Espírito Santo, acaso poderíamos dizer que um desempenha o papel masculino e outro feminino? 

Bem, o livro de Êxodo diz que "o SENHOR é homem de guerra; SENHOR é o seu nome" (15:3), logo, será que o Espírito Santo desempenha um papel feminino?

A palavra hebraica para "espírito" (ruach) é feminina em Gênesis 1:2, embora isso não seja definitivo pra cravar um gênero feminino ao Espírito Santo. Acredito na dualidade de papéis complementares onde o Cristo comparece para ocupar o Corpo com que é presenteado a partir da interpenetração do Pai e do Espírito Santo. 

Para reforçar a ideia do papel feminino do Espirito Santo, observe-se que o que Jesus disse sobre o Espírito Santo, ou seja, que Ele seria "Consolador", que o Pai o enviaria em seu nome e que Ele nos ensinaria todas as coisas e nos faria lembrar de tudo o que nos foi dito (Jo 14:25-26). 

Ora, de quem é o papel familiar de ensinar e fazer lembrar e, ainda, de consolar os filhos? Provérbios 1:8 nos convoca a ouvir o "ensino de teu pai", traduzido pela palavra hebraica que indica correção, disciplina e castigo; porém, o texto diz pra não deixarmos a "instrução da mãe", traduzido a partir de torá, que significa orientação e instrução. 

Ademais, a passagem de Isaías 66:13 diz que "como alguém a quem sua mãe consola, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados", demostrando que o papel de consolo é justamente o da mãe. 

Isso torna o Espírito Santo mulher?  Obviamente que não, até porque Deus não é homem (Nm 23:19). 

O que esse ensino nos mostra é que os dois sexos - macho e fêmea - nos quais os humanos e boa parte dos animais e das plantas se dividem quase igualitariamente em número, são uma sombra (imagem) das coisas celestes (Hb 8:5). 

Deus nos mostra com isso que nEle subsistem dois papéis indispensáveis a criação, e que estes papéis se reproduzem em sua imagem sobre a terra de modo que deveríamos dar honra a cada qual por sua função criacional.