Muitas vezes ouvimos a expressão "cuidado de Deus". Ela demonstra o quanto ficamos impressionados por um agir (divino) detalhado e perfeito, que é tão diferente de nós...
É isso que a expressão "cuidado" significa, e não que Deus precise "tomar cuidado" com alguma coisa, como se houvesse a possibilidade de Ele agir de forma descuidada. Não há!
O mais impressionante acerca da perfeição é que o Ser Perfeito não precisa se esforçar para ser perfeito. Ele não precisa tomar nenhum cuidado, não precisa treinar, nem desenvolver habilidade e muito menos pedir ajuda a quem quer que seja. Ele simplesmente faz tudo o que faz de forma perfeita.
Ele não "consegue" fazer de outra forma. Perfeição é característica inafastável de todos os seus atos. Deus também não precisa treinar para fazer alguma coisa, pois Ele é o saber absoluto. Mesmo que treinasse, não teria como se aprimorar, porque a perfeição com que faz todas as coisas também é absoluta. As suas motivações são tão perfeitas quanto os seus atos e fundadas no mais absoluto amor.
Acredito que só tem uma coisa que Deus não possa ter em relação à sua perfeição: a alegria da contemplação, que requer alteridade.
Para que Deus possa contemplar algo perfeito é preciso que mais alguém faça as coisas com perfeição, porém, sendo Deus o Único Perfeito (Hb 7:20), a única maneira disto ocorrer é Ele particionando-se em três pessoas que, não obstante, continuam sendo Único Deus.
Tem outra coisa que Deus também não "consegue" fazer. Deus não consegue crescer, desenvolver e se aprimorar, pois Ele É, o que significa que sua absoluta perfeição sempre foi e sempre será exatamente assim. O único modo de Deus contemplar o seu próprio incremento é particicionando-se e, ademais, encarnando-se num Ser que, tornado imperfeito por Si mesmo, volta-se para o Criador a fim de recuperar sua perfeição original.
Este é o ser humano, criado em perfeição no primeiro homem, decaído de seu estado para tornar-se totalmente depravado e, depois, absolutamente recuperado pela santificação que obtém no Filho do Homem.
Portanto, ainda que possamos e devamos ser aperfeiçoados em Cristo, esta não é nossa condição quando nascemos, pois estamos inclinados naturalmente a agir de forma imperfeita. A medida que sofremos as consequências de nossa imperfeição - e desde que tenhamos nos arrependido e nascido de novo - nós passamos à uma jornada de busca pela perfeição.
A perseverança, a insistência, o treino e o aprimoramento vão nos conduzindo a níveis maiores de excelência, porém, ainda assim podemos ter tentativas melhores e piores.
Vou exemplificar com o jejum. Houve uma época em que eu não jejuava e nem pensava nisso. Entendi o valor do jejum e comecei a jejuar. Me aprimorei e entendi que a regularidade no jejum era o mais importante. Passei a exigir de mim mesmo o jejum regular e fui avançando.
Daí que tem dias que o jejum é ótimo, que é grande a sensação de dever cumprido, que parece que tocamos o céu, porém, mesmo que isso ocorra algumas vezes, sempre aparece um novo episódio onde o jejum é mal feito, onde mais se parece com uma greve de fome feita em meio a muitas atividades.
O motivo de irmos avançando e progredindo, ainda que aos poucos, é que não desistimos, pois sem a resiliência o fracasso não seria ocasional e, sim, permanente.
Não devemos desistir de semear, pois só colhe aquele que não houver desfalecido (Gálatas 6:9).