segunda-feira, agosto 15, 2022

FAMÍLIA DA FÉ

 

A família biológica supre nossa necessidade de relacionamento afetivo, expressa parte de nosso amor filia e estabelece e reforça nossa identidade terrena. Já a família espiritual, que é a congregação dos irmãos, supre nossa necessidade de relacionamento espiritual, expressa parte de nosso amor filia, assim como nosso amor agape também, e estabelece e reforça nossa identidade celestial.

Cristo nos ensinou sobre isso nas passagens de Mateus 12:46-50 e Mc 3:31-35.

Os textos enfatizam que Maria, mãe de Jesus, bem como seus irmãos, vieram falar com Ele, porém, em vez de entrarem onde Jesus estava congregado com os irmãos da fé, eles pediram que Jesus saísse para falar com eles. A Bíblia não diz, ao final, se Jesus saiu para se encontrar com sua mãe e seus irmãos ou se estes entram pra falar com ele, porém, antes de atender sua família biológica, Jesus usa o fato para dar um ensino à sua família espiritual.

Jesus diz que sua mãe e seus irmãos – ou seja, sua família – era o conjunto daqueles que faziam a vontade do Pai Celestial. Quantos a sermos “irmãos” entre nós e irmãos de Cristo, isto é enfatizado em Rm 8:29, onde Jesus é chamado de primogênito entre muitos irmãos. Já quanto à “mãe”, ela é uma figura da Igreja, tanto que o Apóstolo Paulo fala aos Gálatas que Sara é a mãe da promessa (Hb 11:11), ou aliança, e que essa aliança é figurada pelo Monte Sião, a Jerusalém Celestial, que é “lá de cima, que “é livre” e que "é a nossa mãe” (Gl 4:26).

Por isso, quando Jesus fala que sua “mãe” é a que faz a vontade do YHWH, Ele está dizendo que o Novo Testamento, a Nova Aliança, a Nova Promessa, simbolizada na forma terrena do Monte Sião e na forma celestial da Jerusalém Celeste, é aquela que nos gera e nos ensina.

Quanto a nos gerar, disse o anjo Gabriel a Maria que “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35) e, considerando que somos irmãos mais novos de Cristo, essa promessa se aplica a nós, ou seja, o ente santo que há de nascer em nós é chamado Filho de Deus, por isso, somos herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo.

Quanto a nos ensinar, O Espírito Santo certamente é nosso professor, todavia, ele nos ensina no seio da Igreja, tanto é que Provérbios 1:8-9 diz “meu filho, ouça o ensino de seu pai e não despreze a instrução de sua mãe”. Aqui eu lembro de Timóteo, que foi aconselhado por Paulo a permanecer no ensino das Sagradas Escrituras que havia aprendido desde a infância (2Tm 3:14-15), sendo que esta fé havia habitado primeiramente em sua avó Loide e em sua mãe Eunice (2 Tm 1:5), não por acaso, duas mulheres.  

Por isso, em dadas situações, a nossa família celestial deve ter primazia sobre a família biológica.

Não é incomum, todavia, especialmente nos primeiros anos de fé, que venhamos desagradar nossa família biológica em razão da adoção da fé no Verdadeiro Jesus (I Jo 5:20) e, também, não é incomum experimentar o constrangimento, numa situação de necessidade, de não encontrar ajuda na igreja, porém, ter a mão estendida dos familiares (lembrando que também ocorre com muito frequência o contrário). 

Esse fato pode nos levar a um sofisma, o de que uma família “vale mais” do que a outra. Isso não é verdade, pois devemos honrar cada qual com a honra devida (Rm 13:7), porém, o homem e a mulher que deixa a sua parentela para formar um novo núcleo familiar devem, juntos, se associar a outros núcleos familiares como família da fé e darem a primazia das coisas espirituais à família espiritual, porém, sem faltar honra (Ef 6:2), assistência (I Tm 5:8), amor e comunhão aos familiares terrenos.