quinta-feira, janeiro 25, 2024

A GRAÇA DO QUERO-QUERO

‭‭Sabemos que "a boca fala do que está cheio o coração" (Lucas‬ ‭6:45‬), então, ao lermos a Parábola do Filho Pródigo, devemos atentar para o discurso de cada qual.  

O filho mais novo pecava exteriormente, à vista de todos, enquanto o mais velho pecava interiormente, dizendo de si mesmo que não tinha pecado algum. Sabemos, contudo, que se dissermos que não temos pecado nenhum, nos enganamos, e a verdade não está em nós" (1 João 1:8).

É radical a diferença entre os dois filhos no tocante à consciência de pecado, pois enquanto o filho mais novo tinha consciência de sua pecaminosidade, o mais velho se achava santo. Nesse sentido, vejamos a fala de qual:

Filho mais Novo: "pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho";

Filho maís Velho: "há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua".

O que fica claro é que ambos são pecadores, porém, o filho mais novo pecava exteriormente, se arrependeu, foi recebido pelo Pai e deseja trabalhar na obra. Já o filho mais velho pecava no coração sem arrependimento e estava determinado a impedir, à qualquer custo, que o filho mais novo trabalhasse com ele no campo missionário. 

Uma das conclusões que se extraem dessa parábola é que ministros do SENHOR que não discernem que seu pecados interiores pesam tanto quanto os pecados exteriores dos outros, tendem a impedir os pecadores arrependidos de se aproximarem do serviço ao SENHOR. E, caso não consigam impedir essa aproximação, aí mesmo se demonstram contrariados pelo fato de Deus usar os pecadores arrependidos na obra. 

Dificilmente encontraremos ministros de Deus dizendo que não tem pecado. Eles dirão que tem pecado, certamente, mas como são pecados interiores e, ademais, como muitas vezes sequer os discernem, eles não irão te contar que pecado é esse, como fez o filho pródigo. Dirão apenas que também são pecadores e provavelmente irão se comportar como se a sua conduta fosse superior à conduta daqueles que pecam exteriormente. 

O que ocorre é que trabalhar na obra e não pecar exteriormente não dá direito a ninguém de guardar o cordeiro cevado para si. O Cordeiro não é deste ou daquele, ele é de Deus e veio para tirar o pecado do mundo, sejam pecados exteriores ou interiores. 

Acredito que uma das razões de não termos tantos ceifeiros é porque os ceifeiros que já trabalham nos campos, às vezes, dificultam a entrada de novos ceifeiros nos campos. 

Em parte é compreensível esse zelo, pois os ceifeiros atuais não querem que SEU ofício seja difamado por novos ceifeiros que até ontem estavam na prática de pecados escandalosos. Tornam honorável o próprio ofício a pretexto de cuidar do Santo Ofício, esquecendo-se que o que torna santo o ofício não é o zelo humano, mas o pertencer ao Corpo Divino.

Para não imporem as mãos precipitadamente sobre alguém, alguns ministros do SENHOR raramente impõe as mãos sobre quem quer que seja. Em geral, quanto mais histórica a denominação, mais cuidado ela terá com a contratação de novos ceifeiros. Novas denominações, contudo, costum ser descuidadas nesse quesito. O resultado disso é que enquanto as novas denominações são mais problemáticas, dando lugar a escândalos e controvérsias, também são mais frutíferas, enquanto denominações mais tradicionais, mesmo sendo baluartes da moralidade, convivem com intensa esterilidade espiritual. 

O que me chama a atenção é que Jesus nunca teve cuidado da própria reputação como o Corpo dEle tenta fazê-lo atualmente. Jesus podia perfeitamente ter escolhido os pecadores menos problemáticos, como meio de atrair a todos os pecadores. Ele poderia ter pregado o evangelho a todos, mas tocado apenas os pecadores menos escandalosos, todavia, escolheu tocar ladrões, prostitutas, comilões e beberrões de vinho, mesmo que isso lhe trouxesse má fama. 

Isso é conhecido no meio cristão como "graça da garça", ou seja, a habilidade de andar sobre um terreno fétido e pantanoso sem sujar as alvas penas. Às vezes penso que estamos substituindo esse modelo pela "graça do quero-quero", que é a ave que só anda sobre a grama verde e cuidadosamente cortada. Observe, no entanto, que o quero-quero não tem suas penas brancas, porque, afinal, o branco não vem de fora, mas de dentro. 

Que possamos, todos, nos achegar ao Pai com coração contrito e que trabalhemos todos na seara, pois os campos já estão brancos para a ceifa e não são muitos os ceifeiros. 

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