segunda-feira, setembro 12, 2022

DEVO ORAR POR MIM?

Há dois anos eu fraturei o braço direito em um acidente de moto e desde lá já foram quatro cirurgias, com inúmeras restrições, dores, privações e grandes despesas. 

Certamente esse é um motivo pelo qual orar, porém, constantemente eu preciso ser lembrado por minha esposa pra orar pela minha própria saúde. 

Não é porque eu não ore, mas é porque entendo que se eu orar pela vontade de Deus em mim, eu já estarei orando por tudo em mim, porque Ele é que pensa o melhor a meu respeito, pensamentos de paz e não de mal, para me dar o fim que eu desejo, o Céu (Jr 29:11).

Eu não desconheço o fato de que Jesus nos disse "pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á" ( Mt 7:7-8) e nem desconheço que Ele nos disse que "até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa" (Jo 16:24), porém, quando Ele nos ensinou a orar, nos disse para pedirmos a Deus que a sua vontade fosse feita na terra e, de nós mesmos, nos ensinou a orar pelo Pão nosso de cada dia, que nada mais é do que Ele mesmo, o Pão que desce do céu (Jo 6:51). 

Não vejo problema em orar a Deus pelo alimento diário, mas pouco antes de nos ensinar a oração do Pai nosso, Jesus nos disse para não nos parecermos com os gentios repetindo o óbvio na oração, "porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais" ( Mt 6:8). 

Ora, eu tenho a mesmíssima necessidade diária de comer, logo, se todos os dias eu pedir a Deus por comida, eu irei repetir todos os dias a mesma oração, e isto em vão, pois o Deus que me fez sabe bem que eu preciso comer e Ele me alimenta independentemente de minha oração, pois o SENHOR provê alimento até mesmo para as aves, que não oram, quanto mais para nós, que somos seus filhos (Mt 6:26-27).  

Aliás, se eu, sendo mau, sei dar comida para os meus filhos mesmo que eles não me peçam (Mt 7:11), acaso o SENHOR, sendo bom, precisaria ser lembrado de dar de comer aos seus próprios filhos? 

Quando o seu filho criança te pede comida, certamente isso não é porque você esqueceu de alimenta-lo, mas porque ele está com fome naquele momento. E por mais que você saiba dos seus deveres em relação ao seu filho pequeno, você não o repreende por ele pedir comida, pois você se alegra no fato dele buscar satisfazer uma necessidade básica em você. Porém, se o seu filho já não é mais criança, se já deveria ele estar provendo o seu próprio alimento, e ainda assim ele te pede de comer, isso é frustrante e preocupante. 

Creio que do mesmo modo ocorre com relação ao SENHOR. Em nossa imaturidade espiritual, podemos e devemos buscar o SENHOR pelas mais básicas das necessidades. O comer, o beber e o se limpar, quando nos sujamos, tudo isso depende do Pai, mas quando não somos mais meninos, todas essas coisas nós precisamos fazer, porque fomos ensinados para isso eu já devíamos ter deixado para trás as coisas de meninos (I Co 13:11). 

O que buscamos na casa do Pai, quando já não somos mais meninos, é a sabedoria, o conselho, a direção e a liderança para que possamos realizar as nossas conquistas. Assim como Ló recebeu em Abraão (figura do Pai) a liberdade em meio ao cativeiro, também nós podemos buscar o Pai se escolhermos o lado errado da campina e acabarmos nos enfiando em Sodoma e Gomorra (Gn 13:11 e 14:12).

Outro motivo pelo qual, em geral, não oro para ser poupado das dores é que algumas dores estão ali justamente como correção do SENHOR, pois eu não o escutei de outro modo. Se o meu filho me desobedece a ponto de eu ter que corrigi-lo fisicamente, em geral, não adianta ele me pedir para largar a vara naquele momento. Se a vara está na minha mão é para ser usada no lombo dele e ela só chegou ali porque as minhas palavras não surtiram efeito. Creio que com Deus é o mesmo: se estou sendo açoitado com vara é porque isso foi necessário, de modo que orar para ser poupado nesse momento só reforça o fato de que eu até ali não entendi nada mesmo.

O cálice que Jesus bebeu (morte de cruz pelos pecados) eu não posso beber (Mt 20:22) e Ele tomou esse cálice por mim, porém, o cálice da repreensão eu devo beber até a última gota sem reclamar, pois na minha luta contra o pecado eu não tive que resistir até o sangue, mas Ele derramou seu sangue por mim e, por isso, porque suportou a minha repreensão, Ele pode me corrigir, de modo que eu não devo, de um lado, menosprezar essa repressão e, do outro lado, não devo fazer drama (desmaiar), ao contrário, devo aguentar a repreensão do Pai que revela todo o seu amor por mim, porque é um amor que se recusa a me deixar como estou. (Hb 12:4-8). Se recebo do Pai a vara da disciplina usada nos filhos, é porque não sou bastardo. 

Por isso eu sigo o ensino de Jesus no tocante a oração: oro para que a vontade de Deus seja feita na terra do meu coração, e na terra aonde eu piso, do mesmo modo como essa vontade já é feita nos Céus, ou seja, na realização incontestável de um querer bom, perfeito e que lhe agrada. 

Por fim, eu digo isso porque eu já oro, então, posso me dar ao luxo de aprimorar a oração que faço segundo os princípios das Escrituras, porém, se eu não orasse, qualquer oração que eu fizesse seria melhor que nenhuma, mesmo que eu orasse pelo meu próprio umbigo. 

Então, oremos. Mais e melhor, oremos. 






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