segunda-feira, setembro 13, 2021

DESCOBRINDO A CRIAÇÃO EM DEUS E DEUS NA CRIAÇÃO

O Senhor habita os Céus (2 Cr 6:21) que Ele mesmo criou no princípio (Gn 1:1). 

Diz as Escrituras que YHWH "andava pelo Jardim na viração do dia" (Gn 3:8) e que veio falar com Caim (Gn 4:9), com Noé (Gn 6:13), com Abrão (Gn 12:1), além de ter descido "o SENHOR para ver a cidade e a torre Babel, que os filhos dos homens edificavam" (Gn 11:5) e ter aparecido "o SENHOR e dois anjos a Abraão nos carvalhais de Manre" (Gn 18:1). Ademais, YHWH falou com Moisés da sarça ardente (Ex 3:2) e no Monte Sinai (Ex 19:3). 

Repare que Gênesis e Êxodo descrevem as visitas YHWH à Terra, embora Ele habite os Céus, porém, na criação descrita de Gn 1:1 a Gn 2:3, até o sexto dia, não diz em lugar algum que YHWH tenha vindo a terra para realizar sua obra. 

É verdade que diz em Salmos 95:5 que "dEle é o mar, pois ele o fez; obra de suas mãos, os continentes", mas o versículo anterior demonstra o sentido metafórico disso, ao referir que "nas suas mãos estão as profundezas da terra, e as alturas dos montes lhe pertencem", portanto, a expressão "nas suas mãos" significa potência, domínio, disponibilidade e não que de fato Deus esteja usando as próprias mãos para segurar as profundezas da terra e as alturas dos montes. 

Por isso, me parece evidente que o silêncio do Senhor sobre onde Ele estava na Semana da Criação (ainda que seja onipresente) é um forte indício de que Ele não estava na Terra, não ao menos do modo como esteve nas passagens acima indicadas. 

Outro argumento que reforça essa impressão é que a "separação entre o dia e a noite" só foi proporcionada quando criados os "luminares na expansão dos céus", no quarto dia (Gn 1:14:16). Ora, se só ouve "luminar maior para governar o dia e luminar menor para governar a noite" no quarto dia terreno, então os três primeiros dias não poderiam ser dias terrestres. 

Cogitando-se que YHWH não estivesse na terra, mas sim nos Céus, o Universo, o lugar de sua habitação, que "dia" seria esse no universo? 

Exemplificando, se considerarmos só o sistema solar, o dia de Júpiter tem 9h do dia terreno e o dia de Vênus tem 116 dias do dia terreno. E no Universo onde YHWH habita, quanto duraria esse dia criativo? 

É preciso levar em conta que "para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia" (2 Pe 3:8) e que "as trevas e a luz são para ti a mesma coisa" (Sl 139:12). Na Terra termos as "figuras das coisas que estão no céu" (Hb 9:23) e nos Céus há "uma cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus" (Hb 11:10) e essa é a "cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial" (Hb 12:22), logo, qualquer dia que se considere do ponto de vista de YHWH, é o dia desta cidade celestial e não um dia terreno.  

Ademais, diz o livro do Apocalipse que João viu "a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu (Ap 21:1,2) e que a cidade não necessitava de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é a sua lâmpada" e que "as suas portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite" (Ap 21:22-25) e "ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre" (Ap 22:1-5).

A partir dessas informações, passemos a observar a expressão "e foi tarde e amanhã, dia.....", que está contida seis vezes em Gn 1, assim como o trecho "havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera" (Gn 2:2,3). 

Há, nesses versículos acima, uma referência de "dia" com "tarde e manhã" para cada novo ciclo da criação e, por fim, mais três referências de "dia sétimo" para quando o Senhor descansou de sua obra, ainda que conste em Isaías 40:28 que: "não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga?". 

Em nossa cultura a palavra dia tem dois significados: o dia como período de 24 horas que inicia às 0 horas e vai até às 23:59 e o dia como o período de luminosidade. Podemos dizer, portanto, que no solstício de verão, no dia 21/12, teremos o dia mais longo do ano. 

O dia, no primeiro significado, é formado por 24 porções idênticas de uma hora cada, mas o dia no segundo significado tem duas porções - a tarde e a manhã - divididas pelo meio-dia e intercaladas por uma noite. 

Observe-se que a primeira referência à palavra dia em Gênesis ocorre depois que Deus cria a luz, que a considera boa e que com ela separa as trevas. Observe, também, que o termo trevas aparece na Bíblia antes do termo luz.

Já no último capítulo de Apocalipse não encontramos a palavra dia, mas por duas vezes ocorre o termo "não haverá", sendo a primeira para a maldição e a segunda para noite (trevas).  

Isso fortalece a teoria do hiato, segundo a qual "no princípio criou Deus o céu e a terra" (Gn 1:1), porém, algo ocorreu entre o versículo 1 e 2 para que a Terra viesse a ficar sem forma e vazia e com trevas sobre a face do abismo (Gn 1:2). Essas trevas precedem a luz, que é proporcionada por Deus para intercalar as trevas com períodos de luz, dispensação esta que durará do versículo 3 de Gênesis 1 até o advento do novo Céu e a nova Terra no penúltimo capítulo da Bíblia, quando as trevas deixam de existir (Ap 21:25). 

Devemos lembrar que YHWH "habita em luz inacessível a que nenhum homem viu nem pode ver" (I Tem 6:16), que Jesus é "a luz do mundo" (Jo 9:5), que na "sua luz veríamos a luz" (Sl 36:9) de modo que enquanto tínhamos a luz conosco deveríamos "crer na luz para que fossemos filhos da luz" (Jo 12:36) e que "a luz resplandece nas trevas, mas que as trevas não podem prevalecer" (Jo 1:5). 

Tudo isso nos mostra que luz e trevas são termos figurados, como, aliás, consta em Isaías 5:20, onde se lança um "Ai" contra "os que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!". 

Portanto, a luz é, em certo sentido, onde Deus habita, e também diz respeito aos seus atributos que foram expressos em Jesus enquanto esteve encarnado, depois em nós, que fomos feitos luz do mundo (Mt 5:14).

Ao dizer que sua criação em seis dias foi feita sempre em "tarde e manhã", o que transparece evidente é que nada foi criado à noite, em trevas. Já quando o sétimo dia é referido na capítulo 2, três vezes esse dia é mencionado, cada vez com um verbo diferente: acabar, descansar e abençoar

Repare que esses três verbos apontam cada qual para uma porção do dia semanal: o acabar (o trabalho) refere-se à tarde; o descansar refere-se à noite e o abençoar refere-se a manhã do novo dia semanal. O sétimo dia é o Dia do Senhor, quando ele virá, embora devamos vigiar, pois "não sabemos quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã" (Mc 13:35). 

Tudo isso nos mostra que a criação em seis dias está a nos dizer muito mais do que a literalidade aparenta e, ademais, que a interpretação literal apresenta contradições dentro do próprio texto bíblico, sem contar que o estudo da criação - que nos revela o Criador - aponta para um sentido, uma ordem e um processo que os dois primeiros capítulos de Gênesis não mencionam se considerados em sua literalidade. 

Toda contradição bíblica é apenas aparente. A Escritura não se contradiz, ao contrário, ela se complementa e se discerne espiritualmente (I Co 2:14), lembrando que "não é primeiro espiritual, se não o natural, depois o espiritual" (I Co 15:46) e "o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido" (I Co 2:15) e que a "inteligência espiritual" (Cl 1:9), como qualquer outro dom, se desenvolve. Logo, num primeiro momento, ainda "menino no entendimento" (I Co 14:20), eu "falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino" (1 Co 13:11), de modo que não preciso e não devo mais interpretar a Bíblia com um menino, de forma literal e, portanto, natural. Posso e devo adentrar às novas camadas de revelação, perscrutando as "maravilhas das profundezas de Deus" (Sl 107:24), isto guiado pelo Espírito de Deus, que penetra essas profundezas (I Co 2:10).

Por tudo isso eu diria que o modo mais inseguro de interpretar a Semana da Criação e o descanso de Deus é o modo literal, porque a literalidade conduz ao absurdo e ao paradoxo, enquanto que YHWH é um Criador que demonstra em toda a sua obra uma ordem, um critério e um processo, pois Eles nos mostra que é "primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga" (Mc 4:28). 

Aqui uma observação. Muitos crentes tem demonstrado interesse em conhecer a criação através da Palavra de Deus, mas a Palavra nos manda fazer o inverso, ou seja, "conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor" (Os 6:3), sendo que "o que de Deus se pode conhecer, claramente se vêem pelas coisas que estão criadas" (Rm 1:19,20), logo, tanto podemos conhecer a criação através do Senhor - já que quem "tem falta de sabedoria peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente (Tg 1:5) - como podemos conhecer o Senhor através de sua criação.

Uma conclusão provisória disso tudo é que se você quer entendimento sobre a criação, estude sobre a criação, pois além de aprender sobre ela, você aprenderá sobre o Criador. Quanto aos capítulos 1 a 3 de Gênesis e os demais relatos esparsos da criação na Palavra, tenha-os como Verdade e não como um relatório objetivo da criação, pois Deus não descreveria objetivamente a criação dos Céus e da Terra para que um pastor de ovelhas (Moisés) que viveu há 3.300 anos pudesse contar à sua posteridade. 

O estudo da criação hoje nos mostra que há a matéria (que se organiza em elementos químicos), sujeitando-se ás forças da física (quântica e newtoniana), dados estes incompreensíveis aos homem rústicos, sejam os de hoje, sejam os de 3.300 anos atrás.

É por isso que o relato da criação deve ser entendido como a Verdade, porém, que requer ser descortinada. Aliás, isso é figurado no próprio tabernáculo, pois o nosso Deus é Verdade (Jo 14:6) e sua presença fora simbolizada no Santo dos Santos, atrás de uma cortina. O conhecimento científico parte do pressuposto da refutabilidade, já a Bíblia parte do pressuposto da inerrância, logo, estude cientificamente a criação em fontes confiáveis, sempre buscando ampliar os limites de sua formação, "examinando tudo, retendo o bem" (I Ts 5:21) e "aplica o teu interior a esquadrinhar e a informar-se com sabedoria sobre tudo o que sucede debaixo do céu" (Ec 1:13), pois nos busca da criação encontrarás mais sobre o teu Criador, desde que tal busca seja acompanhada na fé em Seu Filho e guiada pelo Seu Espírito.   

Concluindo, o relato bíblico da criação representa balizas, marcos verdadeiros dos quais as teorias científicas não deveriam se distanciar, não por que isso afete a Deus ou aos seus filhos, mas simplesmente por que incorreria em erro sobre quem o Criador é o que Ele fez. 

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