segunda-feira, dezembro 19, 2005

A ARMADURA DE DEUS




A carta aos Efésios inicia pregando a condição dos crentes em Cristo e, após o capítulo 4, traz uma série de recomendações práticas quanto à vida cristã, até o versículo 9 do capítulo 6. Do versículo 10 ao 18 as escrituras nos ensinam sobre nossa proteção espiritual, ordenando-nos a nos revestir de uma “armadura de Deus”:
  • Ef 6:11 Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo;


Do versículo 14 ao 17 Paulo nos ensina quais os itens da armadura de Deus e é óbvia a alusão à armadura romana da época, especificamente a armadura dos legionários que guarneciam a Judéia, região dominada por Roma. Pesquisando sobre a armadura do legionário pudemos descobrir que ela possuía 07 itens, conforme a figura do legionário acima.


A armadura, como se vê acima, tinha um (1) elmo, ou capacete, uma (2) couraça, um (3) escudo, um (4) cinto, um (5) sandália, uma (6) espada de ferro (famoso gladius) e um (7) dardo ou lança.


O interessante é que Paulo, quando fala da armadura de Deus, não menciona o dardo como item da armadura, aliás, quando menciona o dardo, é para dizer que o nosso inimigo é que dele se utiliza, enviando-o em chamas fumegantes contra nós:


  • Ef 6:16 embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno.


A armadura de Deus, segundo as escrituras, tem como única arma ofensiva a espada, que é a Palavra de Deus. Isto nos ensina que a única ofensiva que estamos autorizados a empreender em nossa militância cristã e o uso da Palavra de Deus, e nunca o dardo, que é símbolo de acusação. Todas as demais armar são defensivas.


Aliás, o próprio propósito de usarmos a armadura é defensivo, como se vê nos versículos 11 e 13:


  • Ef 6:11 Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo;

  • Ef 6:13 Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.


Devemos usar a armadura porque seremos alvo de ataques de nossos inimigos, que demandam dardos de acusação contra nós e se valem de ciladas, tentando nos atingir desprevenidos. O objetivo da armadura é, tendo passado o dia mau em que seremos atacados, podermos estar inabaláveis, tendo vencido o inimigo.


Outra lição importante é sobre os inimigos contra quem iremos guerrear com esta armadura defensiva. Não se trata de pessoas, organizações ou governos, mas de demônios que agem nas regiões celestes, ou seja, na dimensão espiritual denominada segundo céu, de onde parte o comando do diabo:


  • Ef 6:12 porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.


O uso da espada – que é a Palavra de Deus – para julgar ou constranger pessoas ou para disputar sobre a hegemonia de uma dada interpretação bíblica ou de uma visão de reino, não está autorizada pelo Senhor. Somente os nossos inimigos devem ser alvos de nossa espada, por isso, nunca devemos criticar ninguém.


O primeiro item da armadura mencionado é a couraça, que os legionários chamavam de lorica. Era um conjunto de placas de ferro revestidas internamente com couro, que protegiam o soldado da cintura pra cima, inclusive os ombros e a porção superior do antebraço. Paulo diz que esta couraça, na armadura de Deus, é a justiça. A justiça é o efeito que se faz sentir na vida daquele que foi perdoado por Deus.


Na antiga aliança, após o sacrifício de sangue de animais, Deus recebia a vida do animal – vida esta que estava no sangue, segundo Lv 17 – como substituto da vida do pecador, que deveria morrer, já que o salário do pecado é a morte. Na nova aliança, Cristo é o cordeiro que tira o pecado do mundo e o sangue (e a vida terrena) dele é recebido pelo Pai como substituto para todo aquele que se põe sob o senhorio de Cristo. É que pela Lei Mosaica o servo tinha direitos perante o seu senhor, mas não perante terceiros, já que o senhor em tudo lhe representava. Se um servo defraudava o patrimônio de alguém, o seu senhor é que deveria se responsabilizar pela despesa. Uma vez que usemos de nosso livre arbítrio para nos colocar como servos de Jesus, a nossa dívida é Ele quem paga, o que realmente o fez na cruz do calvário.


A justiça, portanto, é o efeito que se opera quando Deus nos vê perdoados pelo sacrifício de nosso Senhor, que não tinha pecado e se entregou por nós. A justiça, na armadura de Deus, é proteção para nossos órgãos vitais, ou seja, é defesa para a vida em si, mas não é defesa para golpes que não sejam fatais, como nos membros superiores e inferiores. Isto nos ensina que poderemos ter ferimentos em nossas lutas, mas que nossa vida sempre estará a salvo, pois Aquele que fez a ferida, a sarará.


O mesmo se pode dizer do elmo, chamado capacete da salvação em Ef 6:17. Este item da armadura serve a nos defender de golpes fatais na cabeça. O dardo da incredulidade, que vem em direção à mente, é fatal e só a convicção da salvação, usada como elmo, pode nos salvar deste ataque.


Em Ef 6: 14, o cinto, no qual vai apoiada a espada, é a verdade, no qual vai apoiada a Palavra de Deus. Disto sabemos, pois em Jô 17:17 é dito que a Palavra de Jesus é a verdade e, em I Jo 5:6, o Espírito Santo, que nos ensina a Palavra, é chamado Espírito da Verdade.


Em Ef 6:15 o calçado do soldado é tido como a preparação para o evangelho da paz. A palavra traduzida como preparação, que no grego é heitomasia, é traduzida também como prontidão. O sentido é que estejamos tão preparados tanto para viver como para anunciar o evangelho, como preparado deve estar o soldado, com seu calçado nos pés. Não se pode imaginar os soldados durante uma campanha militar totalmente despreparados, tendo de calçar as sandálias de cordas às pressas porque o inimigo investe contra suas posições. É preciso estar preparado, pois não sabemos quando virá o dia mau.


O escudo da armadura é tido como a fé. É com ela que apagamos os dardos fumegantes do inimigo lançados contra nós. Fé é certeza absoluta, portanto, quando o inimigo lança acusações contra nós, intentando que venhamos a desistir de servirmos ao nosso Senhor, devemos nos defender com a certeza absoluta daquilo que consta na Palavra a nosso respeito. Se a Bíblia diz que somos mais que vencedores, então é isto que somos e nada menos. Esta certeza apaga, em nossa mente, o dardo inflamado, não deixando que o fogo venha consumir nossos valores em Cristo.


O mais interessante sobre o escudo do legionário é que ele era tanto mais eficaz, quando usado como defesa coletiva, encostando-se os escudos uns nos outros, como se vê da imagem do cojunto de soldados.



Somente a união de escudos é que podia fechar um grande escudo contra os dardos inflamados dos flecheiros. Da mesma forma, somente na unidade da fé é que conseguimos resistir eficientemente ao nosso inimigo. É por isso que na mesma carta aos Efésios Paulo nos fala de chegarmos a esta unidade na fé, como resultado de um amadurecimento espiritual. Quando chegamos a unidade da fé, fechamos nosso conjunto contra os dardos do inimigo.


Em Ef 6:18 há, ainda, uma importante admoestação aos crentes, ora comparados a soldados. É a admoestação para sempre buscarmos nosso treinamento como soldados, ou seja, sempre orarmos e suplicarmos ao Senhor, vigiando com perseverança:


  • Ef 6:18 com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos


De fato, de nada adianta estarmos com uma boa armadura se não estivermos treinados para a batalha, orando em todo o tempo no Espírito. A oração no Espírito referida em Ef 6:18 denota tanto a oração em linguagem espiritual, como a oração segundo o Espírito, pois o Senhor deposita em nossos corações Sua vontade, através do Espírito Santo, para que oremos a Ele pela realização desta vontade, assim na Terra, como no Céu. Ou seja, que Sua vontade se dê na Terra – que foi entregue aos homens para governar – assim como tal vontade já opera soberanamente no Céu, aonde Deus é absoluto.


A idéia é que nós, os homens, usemos da prerrogativa que Deus nos deu sobre a Terra para devolver a Ele o domínio, pedindo que Sua vontade aqui se realize. Tal vontade é revelada a nós pelo Espírito Santo e a expressão “orando em todo tempo no Espírito”, ainda que possa estar se referindo também à oração por línguas estranhas, certamente se aplica a vontade de Deus em nós.

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