sexta-feira, junho 21, 2024

A MEDIDA EXTREMA CONTRA O PECADOR IMPENITENTE

Situações extremas requerem medidas extremas. Será que a Bíblia concorda com tal assertiva? Quando o assunto é pecado impenitente, a primeira carta aos coríntios nos mostra que sim, que há uma previsão bíblica para "medida extrema". Porém, essa medida extrema da Igreja é diferente de todas as outras medidas que o pecado requer e, portanto, antes de abordarmos que medida extrema é esta, precisamos considerar quais são as medidas corriqueiras, normais e ordinárias que devem ser tomadas quando o pecado alheio é descoberto. Em geral, quando alguém é descoberto no pecado, a Bíblia manda que o tal seja repreendido e essa repreensão não tem como objetivo a punição, a exposição ou a retratação pública, mas "ganhar o seu irmão" (Mt 18:15). Ora, só se ganha aquilo que está perdido. De fato, se alguém está na prática do pecado impenitente, este tal se perdeu. O único modo dele ser restituído no Corpo é pelo arrependimento, logo, o objetivo da repreensão progressiva que Jesus nos ensina no capítulo 18 de Mateus é suscitar arrependimento no pecador. Se o que queremos edificar é arrependimento no pecador, as palavras que lhe são dirigidas precisam visar essa específica edificação, por isso, da parte de quem repreende não deve haver qualquer "palavra torpe, mas sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem", até porque é a graça que conduz o pecador ao arrependimento (Rm 2:4) e não dá pra transmitir graça com palavreado agressivo. Essa repreensão deve primar por uma "linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito" (Tt 2:8) e, ademais, aquele que foi surpreendido nalguma falta deve ser corrigido com espírito de brandura por quem é espiritual, especialmente para que aquele que repreende não seja ele mesmo tentado a pecar por excessos na repreensão. É isso o que nos diz a carta aos gálatas: "Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado" (Gl 6:1) A repreensão é progressiva, ou seja, o confronto se dá primeiramente entre a vítima e o pecador, porém, se o pecador não se arrepender, uma segunda repreensão é feita com duas testemunhas e, por último, perante a igreja (Mt 18:15 a 17), "para que também os demais temam" (1 Tm 5:20). É aí que aparece a medida extrema da qual falávamos no início, pois se a repreensão não leva o pecador ao arrependimento, a medida extrema é a sua excomunhão, mencionada como “entregar a satanás”. É o que se vê das seguintes passagens bíblicas: E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. (Mt 18:17) Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor [Jesus]. (1 Co 5:3-5) Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, [11] pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada. (Tt 3:10-11) ‭Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. (1 Co 5:11) ‭E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem. (1 Tm 1:20) Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, (Rm 16:17) Como se sabe, satanás é o “deus deste mundo” (2 Co 4:4) e nós, por outro lado, não somos deste mundo (Jo 17:16), logo, entregar alguém a satanás é retirá-lo do Corpo de Cristo, excomungando-o e remetendo-o ao mundo, para ser governado pelo “deus deste século”. E não se diga que a Igreja não tem esta autoridade, pois a excomunhão, no caso de pecado impenitente, é bíblica e, ademais, o que ligarmos na terra, será ligado nos céus (Mt 18:18). Portanto, a medida extrema da Igreja, no caso de pecado impenitente, em especial no caso de pecado de líderes, não implica em flagrantes, exaltações, admoestações veementes e insistência para que o tal se arrependa, antes, a medida extrema implica em uma coisa só: a excomunhão, devolvendo, na autoridade do nome de Jesus, e pelo poder de ligar na terra e no Céu, o pecador impenitente ao mundo e à satanás. Ainda assim isso significa não tê-lo por inimigo (2 Ts 3:15), mas considera-lo como gentio e pecador, lembrando que o nosso papel é pregar o evangelho aos gentios e pecadores, porém, com uma diferença neste caso, pois o excomungado não é um gentio e pecador qualquer, mas alguém que outrora foi iluminado, tornou-se participante do Espírito Santo, provou do dom celestial, da boa Palavra de Deus e dos poderes do mundo vindouro e, contudo, caiu em pecado impenitente, resistindo deliberadamente à confissão, restituição e ao arrependimento (Hb 6:4). Neste caso, a Bíblia diz que é impossível renová-lo para o arrependimento, uma vez que para isso estaria crucificando para si mesmo o Filho de Deus e o expondo à desonra (Hb 6:6). Por isso, caso este excomungado compareça ao culto da igreja, deverá ser convidado a se retirar, pois o culto é para os membros do Corpo e para os que, visitando, aspirem essa condição, e não para quem, já tendo feito parte deste Corpo, foi excluído de forma justa. De igual modo, caso os anciãos que promoveram a excomunhão saibam que o excomungado busca comungar noutra congregação, tem estes o dever de alertar os anciãos desta outra congregação acerca da excomunhão e de seus motivos, isto para que o excomungado não se insira indevidamente no Corpo ou, caso se arrependa, para que os anciãos desta outra congregação possam cuidar de tomar-lhe os votos de sua restituição ao Corpo. Em suma, o excomungado estará entregue ao mundo, com todas as consequências espirituais que isso implica. Embora os olhos do SENHOR estejam “em toda parte, observando atentamente os maus e os bons” (Pv 15:3), os seus ouvidos estão “atentos ao clamor do justo” (Sl 34:15), logo, se a excomunhão bíblica de um pecador impenitente contar com a direção do Espírito Santo, é certo que esta tal jamais será ouvido como se fosse parte do Corpo novamente, salvo se obtiver arrependimento em tempo oportuno. Neste caso, ou seja, se o excomungado se arrepender verdadeiramente, deverá buscar o perdão do Corpo e a sua reinclusão nele, desde que tenha os meios para fazê-lo. Concluindo, a excomunhão não é um tema muito tratado, até porque as congregações funcionam, muitas vezes, mais como associações civis do que como Igreja do SENHOR, contudo, o pecado impenitente deve suscitar o procedimento formal da excomunhão, até para que os irmãos e demais líderes, sabendo exatamente o que fazer, evitem uma série de outras medidas não respaldadas biblicamente.

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